fbpx

Thompson X Bohr – Apelo à autoridade

Compartilhe

Por Christopher Henry*

A falácia do especialista é um erro lógico comum em debates e discussões, ocorrendo quando alguém afirma que algo é verdadeiro porque um especialista disse ser verdadeiro, mesmo que o especialista não tenha evidências para apoiar sua afirmação ou mesmo que haja evidências em contrário. Esta falácia permeia diversos campos, como ciência, política e religião, e merece uma análise mais profunda.

Comecemos com um exemplo histórico relevante na ciência. Em 1913, Niels Bohr apresentou um novo modelo atômico, sugerindo que os elétrons orbitavam em órbitas circulares ao redor do núcleo do átomo, uma ideia revolucionária em relação ao modelo anterior de J.J. Thomson, que propunha um átomo como uma esfera uniforme de carga positiva com elétrons incrustados. O que torna esse episódio interessante é que muitos cientistas da época, incluindo Thomson, se opuseram ao modelo de Bohr, utilizando sua autoridade como especialistas em suas áreas para resistir a uma teoria que contradizia suas crenças estabelecidas.

Este episódio é um exemplo claro de falácia do especialista, pois os cientistas especializados, apesar de sua autoridade, rejeitaram uma nova teoria sem devidamente considerar as evidências a seu favor. No entanto, a história mostrou que o modelo de Bohr é amplamente aceito como correto hoje em dia, evidenciando a natureza evolutiva e adaptável da ciência, na qual teorias estabelecidas podem ser desafiadas e substituídas com base em evidências sólidas.

Aqui surge uma questão importante: não estaremos nós, em alguns casos, cometendo a mesma falácia do especialista que criticamos? Por exemplo, na aula de ética da informação, aprendemos sobre o conceito de autoridade informacional, que atribui maior credibilidade e confiabilidade a informações provenientes de especialistas, com base na ideia de que eles possuem mais conhecimento e experiência. No entanto, isso não entra em conflito com o cerne da ciência, que exige a avaliação crítica das evidências em vez de aceitar cegamente o que os especialistas afirmam?

É crucial considerar essa questão, pois ela nos leva a refletir sobre a importância de não dar mais importância a quem diz algo do que ao que é dito. Em nossa busca pelo conhecimento, devemos estar dispostos a ouvir diferentes perspectivas e explorar possibilidades diversas, a fim de promover um avanço genuíno. Se nos agarrarmos cegamente à autoridade dos especialistas, podemos correr o risco de ignorar outras fontes valiosas de conhecimento e limitar nosso potencial de aprendizado e inovação.

Em suma, a autoridade de um especialista não deve ser usada como um escudo para rejeitar novas ideias sem considerar as evidências a favor delas. A ciência é um processo contínuo de descoberta e mudança, e nossa abordagem deve refletir essa natureza dinâmica. Devemos equilibrar o respeito pela autoridade com uma avaliação crítica das evidências, para garantir que avancemos em direção ao entendimento mais profundo e à verdadeira expansão do conhecimento.

*Christopher Henry, graduando em Ciências Matemáticas e da Terra – UFRJ, GameDev e estudante de economia.

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

plugins premium WordPress
Are you sure want to unlock this post?
Unlock left : 0
Are you sure want to cancel subscription?