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Quem defende a liberdade do(a) professor(a)?

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Por Guilherme S. Esparza*

Quando se fala em educação, a figura do professor é indispensável na formação do indivíduo ao proporcionar não somente a expansão do conhecimento, como também novas visões de mundo e a troca de vivências. A educação não é apenas a transferência vertical de conhecimento do professor ao aluno, é a possibilidade da construção de um mundo em que o aluno é sujeito e objeto do conhecimento, possibilitando-se uma visão crítica de mundo e de sociedade, em que o aluno reconhece o seu lugar enquanto indivíduo e as suas potencialidades.

Quando a educação brasileira é universalizada nos anos 1990, todos os problemas sociais foram intensificados no ambiente escolar, como a pobreza, a fome, a falta de infraestrutura e a falta de apoio familiar. Os professores, então, viram-se diante de situações nas quais não estavam habituados, como a superlotação das salas de aula, o stress, a violência e a falta de políticas de amparo ao trabalho docente. A educação, antes elitizada e tecnicista, deparou-se com uma realidade na qual não estava acostumada, e os professores lançados a um mar de incógnitas.

No entanto, nos tempos atuais, na tentativa de tornar a educação mais eficiente, a fim de cumprir os rankings internacionais de qualidade do ensino, como o PISA, os governos federal, estadual e municipal acabam por dinamitar a pouca liberdade do professor em seus mais variados aspectos, como o aumento da jornada de trabalho, ao transformar as escolas em tempo integral, a exigência de burocracias, muitas das quais não cabem ao professor, o monitoramento por câmeras de vigilância das salas de aula, a precarização do material didático e da infraestrutura escolar.

Por um aspecto social, a sociedade, que diz “acreditar” no potencial da educação, é a mesma que pretende censurar a liberdade de expressão do professor através de projetos de lei como “Escola sem Partido”, vê o professor como um mero trabalhador mecânico que atua somente dentro da sala de aula, força-o a compactuar com dogmas religiosos e ideologias políticas impostas por pais e mães de alunos, quando uma parte destes nem se interessam pela vida escolar de seus filhos, e veem a escola como um mero depósito de crianças e adolescentes, despejando-se toda a responsabilidade parental nos ombros dos professores.

Ademais, seria inocência demais acreditar que somente Paulo Freire ou Jean Piaget são os dois únicos responsáveis pela destruição da educação brasileira, quando a própria sociedade fracassa em seus projetos políticos e pedagógicos de educação, e vê todo professor, não importando a matéria, como uma ameaça, um doutrinador que não cumpre currículos formais e que visa promover a formação de militâncias de esquerda anticapitalismo. O Brasil assiste a uma “caça às bruxas” aos professores, e a maioria parece não se incomodar com o silenciamento e o sucateamento desta profissão que forma todas as outras; pelo contrário, assiste à queima e ainda compactua com o show de horrores.

Quanto ao papel do Estado, não é pela burocracia e pelos bônus salariais que se resolverão os problemas educacionais. A educação é muito mais além do que papéis, números e propagandas políticas, é um conjunto de vivências e saberes muito mais além do que qualquer burocracia e propaganda eleitoral é capaz de expressar. Nada adianta todas as burocracias do mundo se, na prática, a teoria é outra. A educação é uma área humanista, e deixa-la sob os cuidados e a condução de políticos tecnocratas, dos quais não possuem a noção básica das vivências escolares, é o mesmo que deixar um avião de passageiros ser conduzido por um piloto inexperiente.

É preciso repensar a educação, e que tipo de educação almejamos aos nossos filhos e netos. Não é pela censura, engessamento de currículo ou aumento da vigilância em sala de aula que iremos melhorar a educação a longo prazo se nós não oferecemos a liberdade docente e de expressão ao trabalho do professor. Nada adianta os bônus salariais se as condições externas ao trabalho do professor o rebaixam, e tornam esta profissão um verdadeiro fardo.

*Guilherme S. Esparza é estudante de Geografia pela Unesp – Rio Claro, membro da UJL, administrador da página Raposa Colorida e apoiador da causa LGBTQIA+.

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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