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Por que a linguagem neutra é inviável?

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É dramático ter que ouvir a defesa da linguagem neutra vinda dos que deveriam defender a norma culta, dentro da Universidade.
Uma mestranda que estava ministrando a aula de Filosofia e Feminismo citou uma autora, Luce Irigaray, que faz crítica à linguagem, argumentando que é uma forma de perpetuar a desigualdade de gênero, pois, segundo sua visão, a linguagem é construída a partir de uma perspectiva masculina.

Então abriu o debate sobre essa questão da linguagem, e até foi cogitado que não se escrevesse mais, e passássemos o conhecimento de forma oral, já que a linguagem oral é mais fluída, e a escrita permanente. Mas logo voltaram atrás reconhecendo a importância de escrever. A escrita perpetua o conhecimento, chega a mais lugares, protege o que o autor disse e quis dizer, enfim.

A primeira mentira que permeia esse tema é de que a língua é machista.

Quando se diz que o português é sexista, nas palavras do linguista Aldo Bizzocchi, sobre a origem dos gêneros no português: “A razão pela qual usamos o gênero masculino para nos referir a homens e mulheres não é ideológica, mas fonética. Em latim, havia três gêneros – masculino, feminino e neutro –, cujas terminações mais frequentes eram us, a e um. O chamado gênero complexo, que agrupa substantivos de gêneros diferentes, era indicado em latim pelo neutro. Quando, por força da evolução fonética, as consoantes finais do latim se perderam, as terminações do masculino e do neutro se fundiram, resultando nas desinências portuguesas o e a, características da maioria das palavras masculinas e femininas, respectivamente. Ou seja, o nosso gênero masculino é também gênero neutro e complexo. Portanto, não há nada de ideológico, muito menos de machista, na concordância nominal do português”.

E para o professor Cláudio Moreno: “A ‘supremacia’ do masculino que nos leva a usar [por exemplo] convidados, e não convidadas, (e que faz o dicionário registrar os substantivos no masculino singular – aluno, lobo, prefeito) – Essa supremacia, repito, é ilusão.

Mattoso Câmara Jr. fez, nos anos 60, a descrição definitiva do sistema de gênero e número de nossos substantivos e adjetivos: o plural é marcado por S, enquanto o singular se assinala pela ausência desses S; a marca do feminino é o A, enquanto o masculino se assinala pela ausência desse A. Sabemos que aluna, mestra e professora são femininos porque ali está a marca; inversamente, sabemos que aluno, mestre e professor são masculinos porque ali não está a marca. Por isso, enquanto quisermos ser genéricos, podemos usar o singular, masculino (ou seja, o número e o gênero não marcados): ‘O brasileiro trabalha mais do que o inglês’ (entenda-se: ‘todos’) – e por esse mesmo motivo o dicionário assim registra os substantivos. Paradoxalmente, o gênero que exclui é o feminino: se dissermos que o aumento vai ser estendido aos aposentados, homens e mulheres estão incluídos; se for, porém, estendido às aposentadas, os homens estão fora”.

Quando se propõe uma reforma gramática pela adesão à linguagem neutra, não se leva em conta os desafios e as impossibilidades.

Primeiro que, quando se fala em linguagem neutra, implica a pressuposição de que a Ideologia de Gênero descreve a realidade, e antes de mudar a gramática teriam que convencer a sociedade disso.

Além de que os defensores da linguagem neutra consideram que a gramática é determinada arbitrariamente, e que a língua pode ser alterada pela lei, a perda do ensino da norma culta é outro problema gravíssimo que seria consequência dessa reforma na linguagem.
Outra questão que a linguagem neutra levanta é a pressuposição de que a língua exclui pessoas que não se identificam nem como homens, nem como mulheres.

Segundo a Comissão de Direitos Humanos de Nova York, existem 31 identidades de gênero.
Essas pessoas todas são diferentes e lutam para serem representadas. Nesse caso, teríamos que criar um tipo de linguagem para que cada uma delas se sentissem representadas. Ou seja, 31 jeitos de falar.

Se todos os gêneros fossem abolidos, para tudo ser neutro, voltaríamos ao primeiro tópico, de convencer a sociedade de que o gênero neutro existe, ou representa a todos, e de que é possível existir uma linguagem neutra (não basta trocar “todos e todas” por “todes”, todo o resto da frase deveria ser coerente).

Os próprios defensores da linguagem neutra mostram que ela é inviável, já que não falam ela fluentemente.
Eles não proferem seu discurso assim: “Boa noite a todos, todas e todes, espero que estejam concentrados, concentradas e concentrades, vou explicar sobre linguagem neutra e quero que todos, todas e todes compreendam, porque todos, todas e todes precisam disso para serem representados, representadas e representades…”

Quem seria capaz de ouvir algo assim? Extremamente exaustivo e enfadonho!

Aos defensores dessa reforma na linguagem, como classificaríamos a palavra “príncipe”? Ela seria do gênero neutro, já que termina em “e” como “todes” e “amigue”?

Aos que propõe a substituição final pela vogal “i”, como classificar o gênero da palavra “saci”? Seria masculina, mesmo que a intenção é de que fosse neutra?

“Ele” é um pronome que termina em “e”. Mesmo assim não foi considerado neutro e novas propostas foram feitas. Por que seria o “u” a representação da neutralidade? Neste caso, como classificar a palavra “urubu”?

“Amigue” é neutro porque neste caso o e” marca a neutralidade. Mas por que o mesmo não foi considerado no pronome “ele”? A vogal “e” marca a neutralidade no substantivo, mas não no pronome?

O uso do @ ou X no final das palavras seria impossível porque algumas palavras tornam-se impronunciáveis, além de serem desestruturadas silabicamente.

Esses exemplos e depoimentos, disponibilizados no site Brasil Paralelo, demonstram desafios e impossibilidades de inserir a linguagem neutra no português, e também argumenta contra a ideia de que a língua é sexista e subjugadora quanto o feminismo e o movimento LGBTQIAP+ afirmam.

Eles dizem que a pauta da inclusão é deles, mas qual a consequência da linguagem neutra na vida dos cegos e surdos? Para eles já não é suficientemente difícil aprender o idioma, e querem complicar ainda mais?

Antes eles eram o que diziam que o importante na comunicação é se fazer entender, simplificar para os mais simples poderem compreender o que estamos dizendo, e agora estão criando um complicativo e excluindo as pessoas de entenderem. Eu poderia discorrer mais sobre o assunto, mas acho que aqui basta para os bons entendedores.

Particularmente não tenho resistência em chamar ninguém pelo pronome que quer ser chamado. Você pode se sentir o que quiser, mas não tem direito de mudar a língua e a cultura de um povo inteiro. Pode ser chamado pelo que quer num processo natural, mas não impor isso por lei.

Os democráticos entendem que tudo para ser regra, antes deve ser discutido. E enquanto não for consenso, não pode entrar em vigor.

O tema é denso, mas o que fica é que daqui a pouco vira lei a reforma na linguagem, e teremos que aumentar mais que o triplo de palavras que escrevemos, ou 31 vezes a mesma palavra, mudando seu gênero, ou neutralizando tudo de forma que ninguém mostrou a possibilidade de fazê-lo, e ninguém entenderia nada, para que ninguém pense que somos sexistas, misóginos, machistas, preconceituosos, transfóbicos, ofensivos e etc.

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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