Suponhamos que, há alguns dias, certa pessoa fez uma prova na faculdade. Hoje, quando a recebeu, tirou uma péssima nota. Diante desta situação, ela pode refletir e pensar em diversas possíveis causas: 1) não estudou o suficiente e a nota foi condizente com seu esforço; 2) mesmo tendo estudado, ficou nervosa na hora da prova e, então, perceber que isso é algo que precisa trabalhar em si; 3) o professor teve um dia ruim na hora de corrigir e acabou sendo injusto; 4) o professor está a perseguindo e, portanto, a prejudicou propositalmente.
Quando adota-se a última perspectiva, automaticamente a pessoa se torna a vítima da situação. Por consequência, aceita que não teve nenhuma parcela de culpa e que a solução única encontra-se na transformação moral do professor. E qual o problema dessa perspectiva? Assume-se uma posição passiva frente às dificuldades da vida, que naturalmente irão aparecer.
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Caso ela se considere um inocente vitimado, não correrá atrás de uma solução para o problema e, naturalmente, ele não se solucionará. Além disso, espera-se uma atrofia física e moral ao escolher ficar parado, sem fazer uso da própria inteligência e da resignação para solucionar os problemas. Esperar que o outro mude sua postura e, só então, a própria vida se resolverá, não parece uma ideia consoladora. É crueldade acreditar que só poderá ser feliz quando a última pessoa má se corrigir.
Justamente ao fazer uso da liberdade individual, conscientemente escolhe enxergar-se como o dono do próprio destino, dono da própria vida. Nesse sentido, assume a postura ativa e busca, incansavelmente, solucionar seus desafios. Afinal, se não o fizer, provavelmente ninguém o fará e o problema permanecerá aborrecendo. Como Jordan Peterson imortalizou: “se você não é o protagonista de seu próprio drama, é um figurante no de outra pessoa – e pode muito bem ser escalado para interpretar um papel triste, solitário e trágico”. Cabe a cada um escolher qual papel interpretar nesta grande obra teatral que é a vida.
Claro, haverá situações nas quais não será capaz de alterar a causa, como o caso do psiquiatra judeu Viktor Frankl que foi levado ao campo de concentração nazista. Mas, ainda assim, o indivíduo é dotado da liberdade de escolher como vai reagir ao problema. Como Frankl assinalou: “Se pode privar a pessoa de tudo, menos da liberdade última de assumir uma atitude alternativa frente às condições dadas”; o que era facilmente observado nos campos de concentração, visto que alguns prisioneiros judeus tornaram-se guardas nazistas [os Kapos], enquanto há exemplos de sacrifício próprio para salvar um parceiro de sofrimento, como a história do Maximiliano Kolbe. É na hora da dificuldade que se revelam os santos e os porcos.
Toda vez que um desafio surgir, sempre há a liberdade de escolher como agir, tanto para corrigi-lo, quanto para enfrentá-lo. Lembre-se: ser dono da própria vida é uma escolha consciente.
*Por Caio Silva de Almeida, da UJL.