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O arquiteto cancelado por projetar prédios onde ricos e pobres queriam morar

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Recentemente conheci a história de um grande arquiteto chamado Adolf Franz Heep. Nascido na Alemanha em 1902, teve uma formação extraordinária, foi aluno de Walter Gropius, diretor da Bauhaus, e, depois, ao se mudar para Paris, trabalhou por quatro anos com Le Corbusier, o melhor arquiteto do século XX. Quando a Segunda Guerra começou, sendo judeu, Heep fugiu para a Espanha, mas não conseguiu escapar das garras do nazismo por muito tempo. Foi separado da esposa e mandado para campo de concentração, sendo obrigado a trabalhar como engenheiro para o regime. Findada a guerra, veio para o Brasil e se estabeleceu em São Paulo. Logo que chegou, conseguiu emprego e alcançou uma vasta produção entre os anos 50 e 60, produção esta que inclui edifícios residenciais de alto padrão, edifício de estúdios, igrejas e sua maior obra, o Edifício Itália, sede do famoso restaurante Terraço Itália.

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Mas por que estou trazendo esta história para vocês? Bom, sou arquiteto e me formei em uma das melhores faculdades do Brasil, a FAU-UFRGS. Durante todo o meu período como estudante, nunca ouvi falar de Franz Heep. As disciplinas de que mais gostei e às quais mais me dediquei eram justamente as de história da arquitetura e, mesmo assim, nunca ouvi uma citação sequer de sua obra. Hoje sei o porquê: Heep era tachado de “arquiteto da especulação imobiliária”, pois projetava edifícios com fim comercial, para construtoras. Seis meses antes de sua morte, foi homenageado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil, mas, com senilidade já avançada, nem mesmo entendeu o momento.

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Heep foi vítima de uma cultura de cancelamento promovida por pares antes mesmo de esse termo existir. Essa cultura, que infelizmente se espalha pela sociedade, é fruto de uma politização exacerbada. Os efeitos disso são terríveis, mas eu reforçaria um em especial: o desperdício de talentos e ideias genuínas. Karl Popper, grande filósofo liberal, já nos alertava para isso ao desenvolver o conceito de sociedade aberta, isto é, sendo o conhecimento falível e disperso, precisamos preservar o livre fluxo de ideias para conseguirmos avançar em ciência e civilidade. Preservar essa característica é fundamental para o progresso humano, e para tal precisamos estar sempre alertas, sob o risco de grandes feitos da humanidade serem esquecidos pela ânsia de politização da vida.

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* Paulo Giacomelli é associado do IEE

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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