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A conservação ambiental na visão de um jornalista politicamente incorreto

O estudante de jornalismo da Universidade Federal de Santa Maria, Rafael Reis, publicou essa entrevista em parceria com o Boletim da Liberdade
Leandro Narloch é autor dos "Guias Politicamente Incorretos" e fundador do Árvore do Futuro
Leandro Narloch é autor dos "Guias Politicamente Incorretos" e fundador do Árvore do Futuro | Foto: Divulgação

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Leandro Narloch é um renomado jornalista e escritor brasileiro conhecido por ser autor de uma série de “Guias Politicamente Incorretos”, nos quais buscou refutar conceitos estabelecidos da historiografia tradicional. Considerado um polemista por seus detratores, Narloch decidiu se aventurar em uma área dominada pelo “inimigo”. Em 2019, ele fundou o Árvore do Futuro, um instituto que prega o Ecomodernismo e defende o que ele chama de “ambientalismo racional”. Narloch argumenta que o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental são conceitos indissociáveis e que somente a inovação tecnológica proporcionada pelo capitalismo pode salvar o mundo de um desastre climático.

Confira a entrevista:

1 – Quais os objetivos do Árvore do Futuro?

“Nosso objetivo por enquanto é simplesmente difundir ideias, tentar quebrar um pouco o pessimismo e o alarmismo dos ambientalistas e mostrar como a tecnologia pode nos ajudar a resolver problemas, principalmente o aquecimento global. Somos favoráveis à abertura de mercado da energia nuclear para a iniciativa privada, como já acontece nos Estados Unidos. No Brasil, temos a Angra 3 sendo construída há muito tempo e ninguém sabe se vai dar certo ou não…

Outra coisa, o Bill Gates até fala no livro dele “Como evitar uma catástrofe climática” que a energia eólica é uma ótima offshore (usina construída no mar). O vento sopra mais regularmente no mar, só que para conseguir uma licença demora 4 anos, isso em tempos de aquecimento global. Será que não conseguimos ajudar o mercado a desenvolver práticas que contribuem para o meio ambiente?”

2 – Como foi o processo de criação do Instituto?

“Em 2015 ou 2016, eu li o Manifesto Ecomodernista, esse manifesto fala o seguinte: ‘Olha, tem muita gente pobre hoje em dia e essas pessoas querem prosperar, querem ter eletrodomésticos, carros, querem andar de avião. Se a gente já destruiu bastante o meio ambiente, como podemos fazer para aliar preservação e prosperidade para essas pessoas também terem uma vida boa?’

A solução é a tecnologia e a inovação. Porque isso pode dissociar o consumo, a produção, o aumento do PIB, o bem estar humano, do impacto ambiental. Essas retas foram paralelas por grande parte da história, quanto mais consumo, mais destruição. Se você quisesse comer mais carne, você tinha que matar mais mamutes, se você quisesse fazer mais fogueiras, você tinha que cortar mais árvores, etc. Hoje em dia, a tecnologia é tamanha que temos mais consumo, usando menos recursos e causando menos impacto ambiental. Foi assim que eu pensei, ‘puxa, temos que difundir essa ideia do Ecomodernismo no Brasil’ e acabei criando o Árvore do Futuro em 2019.”

3 – Narloch, o que você definiria como sendo “ambientalismo racional”?

“É um ambientalismo focado em resultados, focado em efeitos práticos e políticas públicas. Boa parte do ambientalismo se baseia na demonstração de lealdade a um ideal abstrato, uma demonstração de virtude e não tanto uma preocupação real com o problema. Esse tipo de ambientalismo também é muito dogmático, ele tem proibições que às vezes são irracionais. Um exemplo disso é a caça de elefantes e rinocerontes. Na África, se você é um agricultor, você odeia elefantes. Você tem uma plantação, está perto da colheita e de repente vem uma manada de elefantes e acaba com tudo.

Alguns economistas, baseados em estudos de Elinor Ostrom, primeira mulher a ganhar o Nobel de Economia, pensaram o seguinte: “Vamos bolar um desenho de contrato em que é possível caçar, só que para isso você precisa comprar direto das comunidades de agricultores”. De repente, aquele elefante que o agricultor odiava vira a fonte de arrecadação de centenas de milhares de dólares. A organização que criou isso, chamada PERC (Property and Environment Research Center), descobriu que nos lugares onde esse sistema existe, o número de elefantes e rinocerontes aumentou e onde é totalmente proibido caçar, as populações diminuíram. Se você é dogmático, você acaba dizendo: “Não vamos caçar de jeito nenhum”. Eu também sou contra a caça, mas esse dogma acaba prejudicando justamente aquilo que você quer defender, e quando se tem uma ideia mais focada em resultados, tem que deixar de lado os dogmas e ser mais racional.”

4 – Historicamente, esse é um campo de atuação dominado por ativistas de esquerda. Por que movimentos liberais e conservadores têm tanta dificuldade em tratar da conservação do meio ambiente?

“Na verdade, o movimento ambientalista surgiu com os conservadores e depois foi apropriado (pela esquerda). Hoje em dia, (o movimento) é tão confundido com o pensamento de esquerda, antimercado, anticapitalista, que muita gente da direita, ou que não se considera de esquerda, fala: ‘ah, não me preocupo com o meio ambiente, isso é bobagem’. O Árvore do Futuro tenta mostrar que o meio ambiente é sim uma pauta importante, e é importante demais para ficar na mão de só um grupo ideológico.”

Foto: TV Brasil
Foto: TV Brasil

5 – Durante o governo Bolsonaro, foram registrados novos recordes de desmatamento em biomas como a Amazônia e o Pantanal. Alguns falam em ecocídio e, de fato, o manejo dessa questão nos últimos quatro anos fez com que o Brasil se transformasse em um pária diante da comunidade internacional. Qual sua perspectiva desse cenário?

“Considero o desmatamento um problema, mas defendo medidas que sejam uma alternativa de fato para as pessoas que moram na Amazônia. A Amazônia tem regiões mais pobres do que o Nordeste, a porcentagem de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza lá é maior do que em muitos estados nordestinos. O ambientalista típico do Leblon, da Vila Madalena, de bairros ricos de São Paulo e do Rio de Janeiro, ele costuma falar da bioeconomia: ‘vamos catar Açaí’, ou então fala do turismo, mas isso já faz 20 anos que a gente discute e não está dando certo. Às vezes o rapaz vive em cima da maior mina de diamantes do mundo e para ir fazer o pré-natal com a mulher demora quatro horas andando a pé. Será que queremos que ele fique satisfeito?

Por isso defendemos a legalização da mineração na Amazônia e nas terras indígenas, para diminuir o crime organizado. É um fenômeno muito parecido com a guerra às drogas, a proibição empurra todo mundo para ilegalidade, onde tem crime e onde os criminosos têm uma vantagem competitiva. A mineração é na verdade uma solução para o desmatamento, porque ao invés de você ter que arrasar uma terra inteira para pegar madeira ou então para deixar boi pastar, você devasta uma área menor, seguindo regras de impacto ambiental, e o grande benefício da mineração na Amazônia é que ela aumenta o custo de oportunidades do desmatamento.

Ao invés de desmatar uma área enorme, pessoas ou empresas podem desmatar pouco e ganhar milhões. Você atrai empregos produtivos, empregos com bons salários e além disso, dinheiro para preservar o meio ambiente. A Vale, mesmo a Vale que tem todo o caso de Brumadinho, em Minas Gerais, no Pará ela é um exemplo de preservação, tem uma área enorme que ela preserva. Então, a gente quer sempre facilitar, não adianta repressão do estado, intervenção, isso não está dando certo e não vai dar em nada.”

6 – As mudanças climáticas são uma ameaça existencial à humanidade e muitos ativistas afirmam que a única forma de evitar uma catástrofe em escala global é mudando radicalmente o nosso modo de vida e nossos hábitos de consumo. Sendo assim, é possível salvar o planeta sem antes acabar com o capitalismo?

“Tem um viés meio religioso de alguns ambientalistas que acham que estamos à beira de um juízo final e para escaparmos desse apocalipse precisamos nos punir, precisamos ajoelhar no milho e mudar o nosso estilo de vida radicalmente. O Andrew McAfee (Pesquisador e professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts) fala o seguinte: ‘olha, não precisamos mudar, acabar com o capitalismo, a gente precisa pisar no acelerador do capitalismo, precisamos de mais inovação, mais tecnologia para poder consumir mais usando menos recursos’. Isso para mim é muito claro na questão do aquecimento global, um problema grave, falta capitalismo nessa área… Podíamos ter empresários e empresas investindo bilhões em energia nuclear ou então em energia eólica offshore. O mercado de carbono, ele tem sérias restrições, a gente não consegue exportar carbono para outros países porque a lei também não permite. Além disso, os países que acabaram com o capitalismo também acabaram com a natureza, o Mar de Aral, por exemplo, a União Soviética simplesmente secou um mar inteiro e causou um impacto ambiental gigantesco.

Quando as pessoas estão no último estágio da pobreza elas acabam derrubando a mata para ter fonte de recursos, isso é muito claro no Congo. O Congo é um dos países mais pobres do mundo, 96% das pessoas usam como principal fonte de energia o carvão vegetal, o carvão que a gente usa no churrasco. De onde que elas tiram essa madeira do carvão vegetal? Do parque Virunga, que é um santuário de gorilas. Algumas empresas tentaram explorar óleo no Congo, mas os ambientalistas ficaram furiosos. Talvez isso fosse uma boa. Não existe energia elétrica sustentável no Congo porque ela não se paga, as pessoas simplesmente não têm renda para pagar uma conta de luz, então se existisse um mercado com técnicos, engenheiros, operários, motoristas, caminhoneiros… teríamos um mercado de pessoas assalariadas que não precisam mais cortar árvore do santuário de gorilas para ter energia em casa.”

7 – Última pergunta, para você a natureza possui um valor intrínseco ou devemos encarar o meio ambiente a partir de uma visão puramente extrativista?

Quem dá valor às coisas são pessoas, as coisas não tem valor por si só. Alguns acham que a natureza tem valor em pé, sem ser motivo de exploração, de extrativismo, outros já acham que não. O melhor é sempre conciliar essas visões, por exemplo, ter um mercado voluntário que compra terras na Amazônia e preserva essas áreas, enquanto outros preferem atuar na mineração. Talvez uma conciliação seja o caminho mais pacificador, deixar cada um agir mais ou menos da sua forma, sempre respeitando as leis de propriedade.

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