Em entrevista ao vivo ao Boletim da Liberdade nesta quarta-feira (10), a doutora em filosofia Catarina Rochamonte analisou de forma crítica o discurso de que pode existir uma ou outra candidatura que poderia “salvar a democracia”, em especial se comparado às duas principais nas pesquisas de intenção de voto.
Na avaliação dela, na prática, “tanto a visão de mundo populista de direita quanto a visão de mundo populista de esquerda são um risco à democracia”.
“Democracia não é um conceito fechado. Não é algo que pode ser instrumentalizado, hastear uma bandeira e dizer que está tudo bem. Não é assim. Não basta você dizer que vai defender”, explicou.
“A democracia liberal que eu defendo tem determinadas balizas que a caracterizam, como, por exemplo, a divisão de de poderes, um magistrado independente do poder político, e uma série de coisas que a gente não vê funcionando a contento. Nenhum desses demagogos que estão dizendo que vão salvar a democracia irão conseguir salvá-la, porque não é uma coisa que vai simplesmente se resolver nessas eleições. […] É como se o Lula tingisse mais o seu discurso, se fantasiasse mais de democrata, enquanto que Bolsonaro se fantasiasse menos. Mas, para eles, tudo é uma retórica”, avaliou.
Rochamonte também associou o passado de Lula para criticar a esperança que algumas pessoas têm de que ele poderia representar uma alternativa positiva para a preservação da democracia.
“Como é que você vai eleger como ‘salvador da democracia’ um cara que foi responsável pelo petrolão e pelo mensalão? […] A forma como o sistema político reagiu contra a Lava Jato mostra que o Lula não é o salvador da democracia coisíssima nenhuma. A gente tinha um movimento que poderia despontar para a democracia que a gente quer, que a gente defende, que a gente almeja, quando a gente conseguisse fazer o que estava sendo feito ali [na Lava Jato], isto é, que os políticos poderosos pagassem pelos crimes que eles cometeram. Porque o princípio básico do liberalismo é que ninguém está acima da lei. O governo liberal é o governo da Lei, não o governo de homens, e o que a gente tem tanto com Lula quanto com Bolsonaro é um governo de homens”, disse.
Segundo a escritora, que também manteve uma coluna no jornal “Folha de S. Paulo”, “enquanto a gente não conseguir quebrar o patrimonialismo, o paternalismo, essa ‘suruba institucional’, […] a gente não vai ter democracia”.
Assista a íntegra da entrevista abaixo: