Quando confrontamos a lista dos países de maior economia com os países de maior nível de desenvolvimento sócio-econômico, vemos que não há sobreposição de nomes: EUA, China e Japão formam o pódio em termos econômicos; Noruega, Suíça e Irlanda são o trio vencedor quando o prisma é o Índice de Desenvolvimento Humano. Isso mostra algo que de modo empírico sabemos a partir da observação do nosso dia-a-dia: ter mais dinheiro não é sinônimo de ter melhor qualidade de vida…
Ao analisarmos o ranking do PIB per capita, que mede o nível de renda da população, e do PISA, que mede o desempenho internacional dos alunos, de modo similar, observamos que não há uma coincidência perfeita entre os países, mas há maior correlação do que o binômio PIB e IDH. E quando olhamos para IDH, PIB per capita e resultado do PISA, notamos que os “convidados” são os mesmos, ainda que não tenhamos todos sentados em posições idênticas.
Ao que parece podemos inferir que quem tem melhor nível educacional, tem maior renda. E uma renda maior pode lhe conferir uma melhor qualidade de vida. E não por acaso os pais, em seus mais variados níveis sociais, tentam infundir (de modo geral), cada qual ao seu modo, a noção em seus filhos de que estudar vale um futuro melhor. Isso, em nível de classe média, é um discurso no mínimo semanal. Mas não é diferente, creio, nas outras pontas da pirâmide.
Meus avós, de modo global, foram até o que se hoje chama de nível fundamental. Meus pais, alcançaram o nível médio e conseguiram ter a oportunidade de ter uma renda maior do que seus pais, na média, e uma qualidade de vida superior. Meus irmãos e eu fomos a um degrau acima, tendo, inclusive, meu irmão e minha irmã chegado ao topo da vida acadêmica, obtendo de modo oficial e merecido o título de “doutor”, coisa que eu mesmo só consegui de modo social por me tornar médico.
Mas não vim aqui para falar de pessoas de modo particular, mas de modo coletivo. E também não quero aqui citar o exitoso exemplo da Coréia do Sul, e sua revolução educacional que tirou o país, num intervalo de duas gerações, de local pobre e atrasado, e o elevou à condição de terra rica, próspera e de alto IDH. Em linhas gerais fizeram o óbvio: formaram 1º a base para gradativamente ir ascendendo aos níveis superiores da educação. Não precisa, claro, ser gênio ou pedagogo para chegar a esta conclusão. Um olheiro de futebol sabe o quão importante é ter uma base forte para se ter no futuro um time campeão.
No entanto vou ficar pelo Brasil e deixar a Ásia e seus “tigres” de lado. Quero voltar à década de 30 e à “nossa” Revolução Constitucionalista. São Paulo, à época, tinha uma população, numericamente, um pouco inferior à mineira, então a mais populosa da federação, e um PIB bem menor do que o Estado do Rio de Janeiro, então motor da nossa economia. A história a maioria aqui conhece: São Paulo chamou pra briga o restante do país e foi atropelada, para usar uma expressão do momento.
Humilhada por uma derrota militar inconteste, a elite paulista se viu num dilema: o que fazer para que o estado assumisse um protagonismo no cenário nacional doravante? A saída encontrada foi: nos livros! Já que a revolução armada havia sido um fiasco, restava aos perdedores a criação de um ambiente cultural que levasse a um desenvolvimento econômico e, por fim, recobrasse o prestígio político nacional. Assim nasceu a USP; assim a população cresceu; e deste feito resultou, 30 anos depois, uma hegemonia econômica que perdura até hoje e corresponde a cerca de 30% do PIB nacional.
Tornar-se próspero é o sonho de todo ser humano; ver seus descendentes terem uma vida melhor do que a sua realiza qualquer genitor; um país cuja a renda populacional é alta, tem enorme chance de possibilitar uma melhor qualidade de vida para os seus cidadãos; e, ao que parece, ter um sistema educacional potente auxilia enormemente neste caminho.
Isso funciona em nível pessoal e familiar; funciona em nível estadual e nacional; funcionou para mim e, provavelmente, funciona para você. O que foi bom para a Coréia também foi bom para São Paulo. Ter uma elite intelectual é ter um ativo intangível cujo cultivo inicial se dá pelo nível fundamental. Quer seja numa história familiar ou estatal. Quer seja no passado ou no futuro. Mesmo que o futuro seja no Brasil…