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5 perguntas para o analista político Luan Sperandio sobre o movimento liberal

Analista político e head de conteúdo do Ideias Radicais, Luan Sperandio conversou com o Boletim da Liberdade sobre a conjuntura política e os desafios e oportunidades para o movimento liberal em 2022
Foto: Reprodução

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Luan Sperandio é uma das principais lideranças do movimento liberal brasileiro. Formado em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo com MBA na Fucape Business School, Sperandio já participou de diversas organizações liberais e, atualmente, além de editor-chefe de uma casa do mercado financeiro, é colunista do jornal “Folha Business”, associado ao Instituto Líderes do Amanhã e head de conteúdo do Ideias Radicais.

Nesta entrevista exclusiva concedida ao Boletim da Liberdade, Sperandio fala sobre a conjuntura política, a gestão Paulo Guedes, o movimento liberal e os desafios para o ano de 2022. Confira:

Boletim da Liberdade: Tendo participado de diversos grupos e organizações ao longo dos últimos anos, como o sr. enxerga a situação do movimento liberal em 2022?

Luan Sperandio: É notável que houve um enfraquecimento em relação à 2019. A pandemia fez mal ao movimento porque diversos grupos que ainda não estavam bem estruturados foram descontinuados, em especial do movimento estudantil. Uma parcela de indivíduos que integravam os números do movimento talvez tenha se perdido ao se preocupar demasiadamente com conveniências políticas e abandonar o debate de ideias, se afastando de princípios e valores — algo, para mim, inegociável.

Dito isso, sou muito otimista no longo prazo. Afinal, houve um crescimento exponencial desde 2007, onde foi construída uma base que passa por diversos think tanks que produzem conteúdos e estimulam intelectualmente a próxima geração, formam novas lideranças estudantis e empresariais, além de laboratórios de políticas públicas, entre outras organizações relevantes.

O movimento liberal entrou ainda no mercado editorial, há atualmente dezenas de indivíduos que se formaram dentro dessas organizações e hoje estão na mídia mainstream, sendo colunistas dos maiores jornais e veículos de comunicação do país. Tudo isso tornou o movimento um pouco mais diverso, embora esse aspecto ainda precise avançar muito. Na esfera política houve uma novidade importante, a criação do Instituto Livre Mercado (que tenho orgulho de ser um dos fundadores). Ele fornece insumos e promove advocacy [N.E.: o termo se refere à prática de ‘lobby’ de ideias para influenciar, sobretudo, parlamentares] para melhoria do ambiente de negócios a partir da atividade legislativa no Congresso Nacional, e será ainda mais relevante no próximo ciclo legislativo. É preciso ter pensamento de longo prazo, sempre.

Boletim da Liberdade: Na avaliação do sr., quais são os principais desafios para as pautas liberais e para os candidatos liberais nas eleições que se aproximam?

Luan Sperandio: O mercado político funciona como qualquer outro: há demanda (dificuldades) e oferta (as soluções). É essencial que os liberais consigam falar a mesma língua do cidadão comum ao propor soluções que ajudem a superar as dores da população. Na disputa municipal, em 2020, por exemplo, houve forte demanda em virtude da pandemia por soluções de saúde, com o SUS pautando discussões, mas candidatos de viés liberal não souberam executar isso tão bem quanto em 2018, e por isso o movimento cresceu aquém do que poderia em relação à 2016.

As pesquisas qualitativas mostram que a principal preocupação do eleitorado mudou em cada eleição. Nas campanhas de 2010 e 2014, era a melhoria de serviços públicos; em 2018, o combate à corrupção; em 2022, a discussão tende a ser pautada pela economia, tendo em vista a inflação de dois dígitos, o desemprego ainda estar alto (apesar da redução) e da queda na renda média.

Além disso, a pauta ética ainda pode ser um componente importante em virtude da presença de Lula e Sérgio Moro na disputa, mas em menor peso que em 2018.

Além disso, os candidatos liberais precisam se preparar com mais tempo de antecedência, até para trabalhar melhor suas narrativas, explorar mais storytellings, e também se preocupar com a criação de chapas eleitorais. Em 2020, tivemos muitos expoentes do movimento que estiveram entre os mais votados em algumas cidades, mas não foram eleitos por causa do quociente eleitoral. O jogo político tem regras, e é preciso saber jogar com elas.

Boletim da Liberdade: O sr. avalia que haverá alguma terceira via que quebrará a polarização entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) na eleição presidencial?

Luan Sperandio: Um terço do eleitorado não aprova nem Lula e nem Bolsonaro, mas não se tratam de votos homogêneos para que um único nome consiga arrebatar todos. Além disso, há um time inteiro de handebol de pré-candidatos que disputam essa parcela de votos: tantos nomes acabam atrapalhando a chance de êxito de algum deles.

A situação se agrava porque a soma dos votos espontâneos dos dois candidatos que lideram a disputa em 2022 — aqueles em que há maior probabilidade de voto — estão entre 60% e 67% a depender do instituto de pesquisa. Esse número é mais do que o dobro para as pesquisas do primeiro trimestre das disputas presidenciais neste século, evidenciando a dificuldade para a viabilidade de um terceiro candidato.

Em política nada é impossível, mas, para isso ocorrer, seria necessário que os principais candidatos se juntassem em uma única candidatura.

Boletim da Liberdade: Olhando pela ótica da economia, como o sr. enxerga os resultados trazidos pela política econômica do ministro Paulo Guedes? A gestão dele foi liberal?

Luan Sperandio: Há muitos governos dentro do governo, inclusive dentro do próprio Ministério da Economia, com resistências internas à ala liberal que Guedes levou para lá.

Além disso, o governo se comunica mal e nem sempre valoriza como deveria alguns feitos, mas devemos elogiar a redução proporcional das despesas primárias, a aprovação de um hall muito grande de reformas estruturais, como a Reforma da Previdência, a Lei da Liberdade Econômica, o Marco do Saneamento, mudanças na legislação sobre licitações e das falências, a Lei do Ambiente de Negócios e a Autonomia do Banco Central.

Poderíamos ter avançado mais, com uma Reforma Administrativa. A PEC dos Precatórios é, definitivamente, um erro, e foi o ponto baixo de Guedes. Contudo, a despeito disso, vejo que avançamos institucionalmente, com os efeitos benéficos da maioria desses aprimoramentos regulatórios sendo sentidos pela população em médio e longo prazo.

Boletim da Liberdade: O que os liberais devem fazer para aumentar a influência e a participação na política e na sociedade em 2022?

Luan Sperandio: É preciso que os liberais fujam da torre de marfim e se preocupem genuinamente com práticas do dia-a-dia da vida das pessoas. Sem isso, não conseguirão se conectar com o restante da população, em especial fora das regiões do Sul e do Sudeste, onde há um percentual maior de indivíduos com maior instrução e renda.

Acredito que o movimento ainda se vende mal, está longe de falar a língua do cidadão comum e falta mais gente na área cultural. É fundamental aprender a levantar mais dinheiro para que as organizações sejam mais perenes e sustentáveis, e possam trabalhar buscando inspirar as pessoas em ideais de liberdade.

Por fim, tem de pensar menos na próxima campanha eleitoral e mais em longo prazo do ecossistema como um todo.

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