*Fernanda Gasperin
Em “A revolução dos bichos”, nos impactamos com os filhotes tirados das mães para que sejam educados pelos líderes. Já em “Cântico”, nos perturba o personagem principal ser amaldiçoado por ter um intelecto superior ao dos demais. Quão próximos estamos do enredo dessas distopias?
Pode parecer natural que o ensino formal seja obrigatório e regulado por um governo, dado que vivenciamos isso há muitas gerações. Essa coerção não é natural, mas sim uma imposição governamental que muito nos aproxima do totalitarismo. Em contrapartida, há uma condição que antecede essa situação. A formação intelectual certamente demanda um ensino formal e sistematizado. Contudo, há uma imensa diferença entre buscar uma educação formal ou ser obrigado a tal, entre alguém determinar ou o indivíduo escolher o que estudar. Um sistema educacional controlado politicamente faz o individualismo ser sobreposto pelo coletivismo.
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Em um universo de pessoas com aptidões e preferências diferentes, de norte a sul somos obrigados a aprender os mesmos conteúdos, da mesma maneira e durante o mesmo período. Cada indivíduo deve ter o ambiente mais livre possível para desenvolver suas habilidades e preferências. Ao impor regras, mesmo em escolas privadas, cometem-se injustiças ao aprendizado individual. A diferença entre o ritmo de aprendizado dos alunos é apenas um dos exemplos: um mesmo ritmo pode ser ao mesmo tempo entediante para aquele que compreende rapidamente e insuficiente para aquele que demanda mais tempo.
Essa estrutura obrigatória e regulada implica em haver um grupo de pessoas decidindo sobre o ensino de toda uma população. Por esse motivo, o conteúdo educacional é inevitavelmente sectário, e, sendo obrigatório, não permite nem mesmo margem para escolha do indivíduo ou dos pais. Numa decisão arbitrária, somos obrigados a nos colocar em caixas e ver o mundo através das lentes de quem tem a caneta na mão. E, ainda que você esteja de acordo com o atual direcionamento, a caneta continuará lá, mesmo quando esse direcionamento mudar.
Os índices de educação nos provam que essa não pode ser a única saída. Uma alternativa é que se busque o direito não à educação, mas sim ao conhecimento: livre e sem impedimentos. Afinal, a condição que antecede tudo é a condição de liberdade.
*Fernanda Gasperin é associada ao IEE.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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