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‘Não descarto me candidatar novamente a um cargo eletivo’, diz João Amoêdo

Em nova entrevista exclusiva ao Boletim da Liberdade, idealizador do Partido Novo e atualmente afastado da direção da sigla, avaliou o governo Bolsonaro, a postura de independência da bancada e falou sobre o cenário para 2022
João Amoêdo (Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil)

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Candidato à presidência da República nas eleições de 2018, João Amoêdo movimentou a política brasileira com a fundação do Partido Novo. A sigla, que hoje conta com uma bancada parlamentar envolvida na defesa de pautas reformistas, vem enfrentando discussões internas a respeito do governo de Jair Bolsonaro.

Em nova entrevista exclusiva ao Boletim da Liberdade, ele falou sobre seu voto no então candidato à presidente que hoje critica como mandatário do país, a postura dos deputados do NOVO diante da identificação do partido como oposicionista, a ameaça do PT e o combate à pandemia de Covid-19.

Amoêdo afirmou que não descarta voltar a concorrer a um cargo eletivo e que há razões suficientes para um pedido de impeachment do presidente da República.

Boletim da Liberdade: “É muito pior do que poderíamos imaginar”. Esse tem sido o seu diagnóstico acerca do desempenho do governo federal. No primeiro turno das eleições de 2018, o sr. tentou oferecer, através do Partido Novo, uma alternativa às candidaturas que terminaram à frente. No entanto, no segundo turno, para derrotar o PT, diz ter votado no atual presidente – e não ter nenhum arrependimento por isso. Qual é, concretamente, a diferença entre as expectativas que o sr. tinha para o governo Bolsonaro e a realidade?

João Amoêdo: O voto no PT seria um endosso à prática de corrupção e o aparelhamento do Estado que marcaram a gestão petista. O que para mim seria inadmissível.

Tinha expectativas muito baixas em relação ao governo Bolsonaro. Ele, como parlamentar, nunca defendeu pautas liberais e não possuía qualquer experiência de gestão. Apesar disso havia alguma expectativa em relação às privatizações com o comando da pasta econômica pelo ministro Guedes, do combate à corrupção com o ex-juiz Sergio Moro e de que o presidente não concorresse à reeleição, conforme mencionado por ele na campanha.

Entretanto, na prática, tivemos a demissão do Moro, o desmonte da Lava-Jato, o aparelhamento de órgãos de Estado, nenhuma privatização, interferência em estatais – notadamente a Petrobras e Banco do Brasil -, aliança com o “Centrão” na busca da reeleição, ataque às instituições do Estado de Direito e uma demonstração de desprezo pela vida humana com a gestão desastrosa da pandemia.

Em resumo, eu esperava que ele fizesse poucas coisas boas. A surpresa, para mim, foi ele ter feito inúmeras coisas ruins.

Boletim da Liberdade: Diante de suas críticas aos dois lados da tão falada polarização, o sr. tem declarado sua disposição por ajudar a viabilizar uma terceira candidatura, admitindo inclusive a hipótese de uma coligação com um candidato presidencial de outro partido. Que critérios precisariam ser cumpridos por essa candidatura para que isso fosse aceitável? Existe algum nome em vista que o sr. acredite estar encaixado nos requisitos?

João Amoêdo: Inicialmente, precisaríamos do compromisso das pessoas hoje mencionadas como potenciais candidatos de trabalharem por uma candidatura única. Na sequência, deveríamos definir um programa básico de governo que contemplasse as reformas essenciais, a defesa e o fortalecimento das instituições, a responsabilidade com as contas públicas e o meio ambiente, o compromisso com o combate aos privilégios e à corrupção e a criação de um ambiente propício para o combate à pobreza.

Esse nome deveria assumir ainda o compromisso de não se candidatar à reeleição, estar alinhado com a pauta definida, possuir capacidade de execução e viabilidade eleitoral.

Não tenho ainda a clareza de quem poderia ser.

Boletim da Liberdade: Depois da experiência de 2018, o sr. ainda tem pretensão de disputar algum cargo eletivo? Se não, de que maneira o sr. pretende continuar participando do debate público e do embate político no Brasil?

João Amoêdo: Minha decisão de participar da vida política do País não tem volta. Seja no debate público de ideias e propostas para melhorar a vida do cidadão, dando mais liberdade para as pessoas e criando oportunidades para todos, eventualmente trabalhando na formação de pessoas para atuação política, buscando alternativas viáveis para a polarização que vivemos hoje e certamente não descarto me candidatar novamente a um cargo eletivo ou retornar ao partido para atuar na gestão partidária.

Boletim da Liberdade: É pública a existência de discordâncias e tensões dentro do Partido Novo. Mais recentemente, o sr. sustentou que a sigla estava errada ao não se declarar oposição ao governo Bolsonaro, mas lideranças da bancada parlamentar do partido objetaram que a melhor maneira de rotular publicamente sua posição é a de “independência”. Existe certo receio em que os parlamentares se declararem opositores signifique serem associados à extrema esquerda e ao PT, bem como a um combate sistemático, comprometendo o apoio a pautas reformistas positivas. Como o sr. enxerga isso? O que significaria na prática declarar-se opositor para as pretensões do NOVO e sua dinâmica de trabalho no Legislativo?

João Amoêdo: Importante esclarecer que o NOVO divulgou uma diretriz partidária na qual o partido se posiciona como oposição ao governo federal.

Na minha avaliação, a oposição a esses dois sistemas que muito se assemelham, o bolsonarismo e o petismo, é o correto a ser feito. Ser oposição a um não significa estar alinhado ao outro. Essa é uma narrativa que só interessa aos dois, que se alimentam dela para manterem um protagonismo.

Na prática, a declaração de oposição não deve interferir na atuação parlamentar, que deverá ser sempre pautada pelos ideais que o partido defende. Mas esse posicionamento de oposição deixa clara uma avaliação muito negativa em relação ao desempenho do governo e sinaliza que o partido trabalhará arduamente para que os brasileiros tenham outra opção em 2022.

Boletim da Liberdade: Por que o presidente da República deveria sofrer impeachment? Há possibilidade de isso se concretizar? Concretizando-se ou não, a esquerda e o PT oferecem risco real de retomar o poder em 2022?

João Amoêdo: O presidente cometeu uma série de crimes de responsabilidade previstos na Constituição Federal e na Lei 1079/50 do impeachment.

Acredito que o clima político necessário à abertura de um processo de impeachment está ganhando força na sociedade, que pressionará cada vez mais o Congresso.

Sim, o risco de retorno do PT existe e é real, decorrente do péssimo governo do Bolsonaro.

Boletim da Liberdade: A pandemia do coronavírus é o tema que mais preocupa o Brasil e o mundo no cenário atual. No campo liberal, instalou-se uma intensa discussão sobre o limite das possibilidades de restrição às liberdades individuais passíveis de serem impostas pelos governos – e o seu nome tem estado envolvido nessas discussões. Como o sr. avalia o tratamento que vem sendo dado à questão pelos políticos nas diversas esferas da administração pública no Brasil e quais são, em sua opinião, esses limites de intervenção estatal na vida das pessoas durante uma crise como esta?

João Amoêdo: Acredito que numa situação excepcional como a que vivemos hoje, com a pandemia, a serenidade, o equilíbrio e a racionalidade devem prevalecer. Neste cenário, defendo o que foi aprovado pelos parlamentares quando definiram a situação de calamidade pública. No campo teórico, me amparo nas ideias de Hayek e Mill. Na prática, em países como Inglaterra e Israel.

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