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Esquerda quer voltar à Casa Branca com foco na questão climática e na saúde pública e gratuita, avalia especialista

Boletim da Liberdade conversou com Maria Fernanda Gomes, colunista do site e especialista em política americana, para debater as primárias do Partido Democrata e projeções para as eleições que se aproximam
Foto: Pixabay
Maria Fernanda Gomes, especialista em política americana (Foto: Divulgação)

As primárias do Partido Democrata começam a ter definição mais clara e, ao que tudo indica, ou Bernie Sanders ou Joe Biden deverão ser a escolha da sigla para disputar a Casa Branca contra a reeleição do republicano Donald Trump.

Em entrevista ao Boletim da Liberdade, a especialista em política americana Maria Fernanda Gomes, a Mafê, que assina coluna no site às quartas-feiras, avaliou o processo eleitoral americano, que até o dia 7 de junho está nas prévias partidárias e, em 3 de novembro, tem marcada a eleição final.

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Entre outros tópicos, foram abordados assuntos sobre quando virá o apoio – e como está a imagem – do ex-presidente Barack Obama, o último democrata a ocupar Washington; por que Biden disparou nas primárias e ultrapassou Sanders e por que a esquerda mais radical tem ganhado espaço nos Estados Unidos. Confira:

Boletim da Liberdade: Joe Biden conseguiu uma arrancada nas primárias do Partido Democrata e hoje é o pré-candidato com mais delegados, superando a marca de Bernie Sanders, então líder. A ascensão foi acompanhada de um conjunto de renúncias e declarações de apoio de outros pré-candidatos, como Pete Buttgieg e Mike Bloomberg. Como e por que Biden conseguiu virar o jogo?

Maria Fernanda: Biden tem uma forte herança do eleitorado de Barack Obama e carisma com os afro-americanos. A surpresa pra mim, na verdade, foi o desempenho ruim em Iowa e New Hampshire, antes da Super Tuesday. Mas quando saiu o resultado de South Carolina, falei alto pra mim mesma: “Agora é só subida, chegou a chance que o DNC (Comitê Nacional do Partido Democrata) queria pra boicotar Sanders e se articular nos bastidores para a indicação do Biden”. South Carolina é o exemplo da força do eleitorado afro-americano apoiando Joe Biden. Não deu outra, ele brilhou na Super Tuesday.

Barack Obama e Joe Biden quando eram presidente e vice-presidente dos Estados Unidos (Foto: Pixabay)

Boletim da Liberdade: O ex-presidente Barack Obama ainda pouco se manifestou sobre as eleições. Ele deve declarar apoio a algum candidato ainda nas primárias? Qual o peso do apoio dele nesse processo e como está a imagem dele nos Estados Unidos após quase 4 anos fora da presidência?

Maria Fernanda: Assim como Hillary, acredito que os dois manifestarão apoio apenas após a definição da chapa na Convenção Nacional, em julho. Dos ex-presidentes, ele é o mais “pop”, mas é muito criticado pelo Obama Care e políticas imigratórias. É aquele negócio da torcida no final das contas, mas a turma mais à esquerda, pró-Bernie, tem suas ressalvas com Obama. Já quem é pró-Trump não o suporta. Ele ainda tem a grande mídia do seu lado, é um influenciador.

Boletim da Liberdade: Há alguma expectativa para quem, ou qual perfil, Biden deve buscar para a vice-presidência, caso sua candidatura seja confirmada?

Maria Fernanda: Minha aposta é numa mulher negra. Uns torcem por Kamala Harris, outros por Stacey Abrams e há quem sonhe com Michelle Obama. Só acho que seria uma ótima estratégia qualquer uma das três. Ainda acho que Kamala tem mais chance, é a mais próxima em apoio neste momento.

Boletim da Liberdade: Quais são hoje as pautas mais fortes, ou os consensos, dos principais nomes que desejam disputar a presidência pelo Partido Democrata?

Maria Fernanda: A questão climática é a pauta da moda, mas como ela não anima os “boomers” e trabalhadores, a plataforma da saúde pública e gratuita se tornou a alternativa pra esse segundo perfil de eleitorado. Mudanças climáticas, apesar de pauta importante, tem mais apelo junto aos “Millenials”. Ah, claro que a principal pauta de qualquer Democrata é derrotar Trump e tomar o poder, o resto é isca de voto.

A questão climática é a pauta da moda, mas como ela não anima os “boomers” e trabalhadores, a plataforma da saúde pública e gratuita se tornou a alternativa pra esse segundo perfil de eleitorado. Mudanças climáticas, apesar de pauta importante, tem mais apelo junto aos “Millenials”.

Boletim da Liberdade: Bernie Sanders é considerado por alguns analistas como um dos pré-candidatos mais à esquerda dos últimos tempos no Partido Democrata e, em 2020, ele tem conquistado ampla quantidade de delegados. Na sua avaliação, Sanders é mesmo mais radical que os demais pré-candidatos? Por quê?

Maria Fernanda: Sanders tem raízes sindicalistas, é a favor de saúde pública gratuita, focando em acabar com os planos de saúde. Além disso, alega que vai “perdoar” as dívidas de faculdade dos que já se formaram. Quando questionado quanto custará e como irá pagar por tudo isso, ele não sabe responder, só retoma o discurso de que irá taxar grandes corporações a nível federal e acabar com Wall Street. Claramente um posicionamento socialista, diferente dos outros candidatos Democratas, que se dizem defensores de uma “social-democracia”, pois são a favor do capitalismo com bem estar social.

Foto: Reuters/Kevin Lamarque

Boletim da Liberdade: Como podemos interpretar a crescente popularidade de Sanders?

Maria Fernanda: Millenials. A culpa é dos jovens. Rebeldia e discursos anti-establishment atraem essa turma. O problema é a incoerência do discurso com a ação, que esses mesmos jovens não enxergam. Enfim … jovens.

Boletim da Liberdade: Falando agora do presidente Donald Trump, como está a aprovação dele junto aos americanos e a avaliação dele entre os próprios republicanos, entre os quais alguns grupos que, em 2016, eram críticos à sua candidatura?

Maria Fernanda: Dentro da bolha Republicana ao que tudo indica ele vai muito bem, está com média de 95% nas primárias, eles sabem que neste momento é a única chance do partido permanecer no poder. Até Ted Cruz o defende. Dentro do partido a principal pedra no sapato de Trump é a família Bush, que no momento só tem sobrenome e não poder político no Partido Republicano. Em termos da população geral, a polaridade continua. Fato engraçado é que meus amigos brasileiros que moram em Flórida, Illinois, Maine e Washington são 100% pró-Trump, já meus amigos americanos que moram na California, Virgínia e Massachusetts não podem nem ouvir falar o nome dele. Engraçado ver a reação de imigrantes latinos torcendo pela vitória do cara que supostamente não gosta de latinos.

[Crescente popularidade de Sanders] é culpa dos jovens. Rebeldia e discursos anti-establishment atraem essa turma

Boletim da Liberdade: O presidente Donald Trump foi absolvido no Senado da acusação de que teria abusado do poder ao usar a máquina estatal para prejudicar a candidatura de Biden. De que forma o impeachment ainda pode ser uma pauta da eleição? O assunto tem potencial para acirrar os ânimos e a popularidade em um eventual enfrentamento entre Biden e Trump?

Maria Fernanda: Eu espero que acirre! O povo quer entretenimento nos debates pra fofocar no dia seguinte e “xingar muito no Twitter.” (Rs). Brincadeiras à parte, acredito que Trump irá jogar a rede para pescar Biden. A investigação do presidente da Ucrânia pode não ter acontecido como ele queria, mas é certo que Mr. Trump não deixaria um furo desse ao vento. O tema virá à tona, para benefício de Donald Trump e desespero de Biden. O Trump Jr. já até chamou Hunter Biden, filho de Joe, para um debate entre os dois, sobre quem recebeu mais “benesses” paternas.

Boletim da Liberdade: Na situação social e econômica dos Estados Unidos, quais temas devem ser as pautas mais exploradas pelos candidatos à presidência durante a campanha eleitoral?

Maria Fernanda: Olha, pouco tem se falado sobre a absurda crescente na quantidade de moradores de rua, principalmente em estados como Califórnia, Oregon e New York e até o próprio Distrito de Columbia. Só ouvi sobre o assunto na entrevista que os candidatos concederam ao New York Times e mesmo assim não pareceram dar muita atenção. Esse índice reflete, em minha opinião, justamente a atenção e eficácia que se tem dado a políticas públicas de imigração, com os estados e cidades santuários, combate às drogas e estímulos trabalhistas nestes estados, por sinal democratas. O assunto precisa ser tratado com mais atenção.

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