O site El País divulgou nesta terça-feira (6) pedaços de diálogos vazados por hackers e atribuídos aos procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato. Nas novas conversas, o procurador Deltan Dallagnol e seus colegas debatem estratégias e possíveis coletas de provas contra o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. [1]
“Caros: a [procuradora-geral da República] Raquel [Dodge] não confronta o [ministro] Gilmar Mendes provavelmente por conta do sonho com [um dia ter] uma cadeira no Supremo [Tribunal Federal], mas ele [Gilmar] está passando de todos os limites. Ou passamos a falar publicamente que a sociedade tem um encontro marcado com o impeachment de Gilmar e, se você não gosta do Gilmar, a culpa é do [então presidente do Senado] Eunício Oliveira [MDB], ou então precisamos cobrar posição pública da PGR [Procuradoria Geral da República]. Sei que devemos medir palavras, mas o Gilmar está abusando todos os limites”, teria dito Deltan aos colegas no início de julho de 2018.
Em outra parte dos diálogos, Deltan orienta que fossem destacadas pessoas para organizar “arquivos para todos os casos em que Gilmar Mendes negou liminar e indeferiu HC [Habeas Corpus] para revogar prisões desde 2014 [data quando teve início a Operação Lava Jato]”. Em outros momentos, os procuradores debatem estratégias e meios para buscar provas, inclusive da Suíça, sobre possíveis elos entre o magistrado da mais alta corte e arrolados da Operação Lava Jato.
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“Acho que vale falar com os suíços sobre estratégia e eventualmente aditar pra pedir esse cartão em específico e outros vinculados à mesma conta. Talvez vejam lá como algo separado da conta e por isso não veio”, teria afirmado o coordenador da Lava Jato em possível referência a elementos que comprovariam envolvimento de Gilmar Mendes em esquemas.
Em nota enviada à reportagem do El País, os procuradores afirmaram que dentre os seus deveres está de “adotar as providências cabíveis em face de irregularidades de que tiver conhecimento, em especial quando relacionadas a casos em que atuam”. A força-tarefa também costuma repetir que não reconhece as mensagens e que o material “tem sido usado editado ou fora do contexto, para embasar acusações e distorções que não correspondem à realidade”.
Reações
Pela legislação, um procurador da República de primeira instância não tem autonomia para investir um ministro do Supremo Tribunal Federal. Essa não foi a primeira vez que os diálogos atribuídos a Dallagnol trazem referências a procura de elos de ministros do Supremo com esquemas ilícitos da Lava Jato. Na última semana, havia sido divulgado que movimento similar poderia ter ocorrido com o ministro Dias Toffoli. [2]
Nesta terça-feira (6), após o vazamento das conversas, o ministro Gilmar Mendes criticou duramente as conversas vazadas. “Eu acho que está na hora de a Procuradoria tomar providências em relação a isso. Tudo indica, à medida que os fatos vão sendo revelados, que nós tínhamos uma organização criminosa para investigar. Portanto, eles [procuradores] partem de ilações absolutamente irresponsáveis”, disse.
Mendes complementou, na sequência, que os fatos revelariam “um quadro de desmando completo” e que podem surgir “ainda surpresas muito mais desagradáveis”.
Pressão no MPF
A atuação de Deltan Dallagnol deve ser mérito de reuniões do Conselho Nacional do Ministério Público. Desde que teve início os vazamentos, informa o jornal O Globo, já foram protocolados no órgão oito reclamações quanto à atuação do procurador. [3]
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