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Crítica: documentário ‘Democracia em Vertigem’ simplifica a história e ignora debate para reforçar narrativa política

Produção dirigida por Petra Costa trata da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com superficialidade, ignora processos e não se aprofunda no debate proposto sobre a morte da democracia
Dilma Rousseff foi uma das entrevistadas do documentário (Foto: Reprodução/Netflix)

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Foto: Divulgação

A melhor forma de compreender “Democracia em Vertigem”, documentário que estreou no Netflix nesta quarta-feira (19), é começando pelo seu fim. Não se trata de uma cena final, tampouco propriamente dos créditos da produção em si: mas sim dos letreiros adicionados ao pós-crédito que divulgam os responsáveis pela dublagem já feita nas mais variadas línguas, do turco ao japonês. O filme é essencialmente um produto para exportação.

Dirigida pela jovem diretora mineira Petra Costa, a produção gira em torno dos desdobramentos do impeachment que tirou o PT do poder à interpretação da crise política que surgiu antes, durante e persistiu após o fim do governo. Conduzido de forma original, repleto de imagens históricas e inéditas, o documentário, contudo, começa a falhar quando entra na seara interpretativa – e não apenas pela narrativa escolhida.

Declaradamente, a principal hipótese que norteia a investigação já é divulgada em seu título. As democracias podem ser fortes ou frágeis, terminarem rapidamente ou irem morrendo lentamente, como seria o caso brasileiro. A produção, no entanto, navega por outros mares e parece esquecer da proposta original.

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O primeiro equívoco é escolher como chave para desvendar as artimanhas políticas do país que estariam levando à morte da democracia justamente a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É com imagens do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde Lula se entregou à Polícia Federal em 2018, que o filme inicia e é lá onde volta para o último ato, preparando-se para o desfecho. A narrativa de Lula sobre a Operação Lava Jato é super-estimada na mesma proporção em que fatos relativos aos processos que sofre são ignorados.

A produção, por exemplo, enfatiza que Lula fora preso em decorrência da acusação de recebimento de propina por meio de um tríplex no Guarujá. Mas, para desmerecer a acusação, simplifica o caso e ignora inúmeras evidências do processo. O filme também não cita a acusação relativa ao sítio de Atibaia, correlações com consultorias prestadas por filhos do ex-presidente e delações de ex-aliados, como Antônio Palocci.

O filme peca porque não se debruça sobre a tese da vertigem da democracia que ele mesmo põe à mesa. A produção sequer propõe um debate se a eleição de Bolsonaro, mesmo sem estar apoiado pelos grandes partidos, e vitorioso fazendo uma das campanhas políticas mais baratas da história do país, não seria justamente uma evidência do fortalecimento da democracia.

Dilma Rousseff foi uma das entrevistadas do documentário (Foto: Reprodução/Netflix)

A narrativa de esquerda sobre o desenrolar do impeachment e da Operação Lava Jato ofusca qualquer tipo de debate sobre a vertigem da democracia que o próprio filme parece trazer. A produção sequer propõe um debate se a eleição de Bolsonaro, mesmo sem vínculo a grandes partidos, e vitorioso fazendo uma das campanhas políticas mais baratas da história do país, não seria justamente uma evidência do fortalecimento da democracia ante, por exemplo, o poder econômico.

Ao mesmo tempo, a produção também ignora que os esquemas de corrupção deflagrados durante o escândalo do Mensalão, em 2005, e a Operação Lava Jato, todos envolvendo a alta cúpula do governo petista com a compra de apoio político no Congresso, também seriam uma forma de ferir a democracia, independendo da corrupção comprovada para fins pessoais. Ao fim, fica a impressão que, para o filme, o risco à democracia se dá mais pela troca de mãos do poder e pela ascensão da direita.

Com isso, o documentário “Democracia em Vertigem” se sustenta mais pelas qualidades documentais da produção, como imagens ricas e roteiro sofisticado, do que como uma plataforma que propõe um debate sobre a saúde das democracias ou a própria democracia brasileira. É como se o roteiro final fosse improvisado de última hora para que o filme não parecesse fora da validade, diante tantas produções já lançadas sobre a queda de Dilma. Em resumo, apesar de bem feito, o filme acaba se prestando ao papel de propaganda negativa do Brasil. E pior: para exportação.

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