O Livres, corrente de renovação do Partido Social Liberal, foi o único grupo pró-liberdade a organizar manifestações de rua pedindo a saída do presidente Michel Temer. Para falar do assunto, e sobre como o partido enxerga que essas manifestações podem evoluir, o Boletim da Liberdade conversou com um dos líderes da legenda, e presidente do partido no Rio Grande do Sul, Fabio Ostermann. Nessa rápida entrevista, o analista político – que foi candidato em 2016 à prefeitura de Porto Alegre – nos confidencia que acredita que as mobilizações podem crescer a medida que surjam novas denúncias e delações. E revela que o partido também considera ter parcerias com outros grupos para que possam juntar esforços nas mobilizações que pedem a saída do presidente. Confira:
Boletim da Liberdade: Em quantas cidades houve mobilizações e como os organizadores avaliam a adesão das pessoas?
Fabio Ostermann: Nossa mobilização aconteceu no Rio, São Paulo, Brasília e Porto Alegre. A gente tem plena noção de que um movimento não se inicia de uma hora para outra e que é natural que vá tendo adesões graduais e que, no começo, é sempre pequeno. Assim foi com o movimento pelo impeachment da Dilma e é natural que aconteça algo similar com o movimento da saída de Temer. Ainda mais dado o fato de que existe um cansaço pela população em relação aos fatos da política brasileira. Isso cria mais um componente que dificulta a mobilização de pessoas. Mas com o provável recrudescimento das denúncias, delações e informações a respeito do caso é provável que as manifestações cresçam nas próximas semanas.
Boletim da Liberdade: O Livres foi o único grupo organizado do ecossistema pró-liberdade a ir às ruas pedir o ‘Fora Temer’. Por que vocês perceberam que já era o momento de ir às ruas? A saída de Temer é útil na guerra política pela liberdade?
Fabio Ostermann: Pra gente, pareceu uma decisão natural frente ao fato de que, segundo o nosso julgamento, o presidente Michel Temer não dispõe mais de condições políticas, jurídicas e especialmente morais para estar ocupando a presidência da república e para estar, especialmente, tocando adiante as reformas de que o Brasil precisa. Diante desse véu de ilegítimidade que paira, agora, sobre seu governo, frente a essas denúncias tão graves do seu envolvimento com o acobertamento de investigações importantíssimas para o futuro do país e seu envolvimento com esquemas de corrupção de proporções multibilionárias.
Boletim da Liberdade: O presidente Michel Temer afirmou em entrevista para o jornal Folha de S. Paulo que renunciar seria admitir culpa. Nesse sentido, vocês pretendem continuar se articulando em manifestações de rua para pedir, além da renúncia, o impeachment do presidente?
Fabio Ostermann: O presidente Michel Temer falar que algo seria admitir ou não culpa é natural; o que não é natural é nós tomarmos isso como uma verdade de que contrários a todas as evidências postas aí ele não tem culpa. Até porque não faz o menor sentido. O envolvimento dele não só com o Joesley Batista e suas tramoias, mas também o que deve vir a tona muito em breve o envolvimento do deputado Rodrigo Rocha Loures, que era uma espécie de assessor do Temer… isso tudo cria uma percepção muito clara de que o presidente está sim implicado em diversos crimes incompatíveis com a sua função. Incompatíveis, aliás, com qualquer cidadão brasileiro respeitador das leis. Quanto mais de um presidente da república. Então, sim, continuaremos organizando manifestações, indo às ruas para pedir a renúncia e o impeachment do presidente.
Boletim da Liberdade: O que pretendem fazer para contar com maior quantidade de pessoas nas ruas? Uma eventual articulação com outros grupos de rua, talvez até mais experientes, é considerada?
Fabio Ostermann: Sim. Com certeza a gente pretende buscar articulações de outros grupos de ruas. Já estamos em contato, acreditamos que é esse o momento de a sociedade se unir em prol de uma causa, assim como foi em relação ao impeachment. E acho que esse também é um momento importante para a sociedade perceber quais são os grupos que estão comprometidos com, enfim, projetos de poder específicos e quais são os grupos que estão comprometidos com a melhoria das nossas instituições e do clima de liberdade e prosperidade em nosso país.
Boletim da Liberdade: Grupos e partidos com pautas claramente anti-liberais também defendem a saída de Temer, boa parte deles pedindo a convocação de eleições diretas. Quais cuidados ou medidas que o PSL pretende tomar para que o grande público entenda as eventuais diferenças ideológicas envolvidas?
Fabio Ostermann: Entre os cuidados que nós devemos ter é reforçar o fato de que, nesse momento, apesar de acreditarmos que a saída do presidente seja o melhor caminho, precisamos respeitar as instituições e não cair no discurso de casuísmo eleitoreiro. Ou seja: no discurso salvacionista de alguns grupos que defendem a volta das eleições diretas imediatamente somente visando salvar da cadeia o seu candidato – no caso, o Lula – e não pensam realmente em resguardar as instituições brasileiras. Vale lembrar que a nossa constituição já apresenta o caminho institucional adequado para uma crise como essa. De vacância do poder do presidente e do vice-presidente, que é a eleição indireta em até 30 dias após a saída do vice-presidente. Então, a gente já tem o caminho para isso, e cabe a nós como membros da sociedade tanto civil quanto política pressionarmos para que o Congresso eleja um nome que possa pacificar o país e que possa levar adiante reformas importantes como as da previdência, trabalhista e tributária.