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O discurso unificador da saúde

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*Marcus Vinicius Dias

As eleições majoritárias têm como característica fundamental a vitória no pleito de quem leva a maior quantidade de votos válidos na disputa. Particularmente no Executivo é desejável, em tese, que esta maior quantidade também reflita o desejo da maioria dos votos válidos. Num sonho de uma noite de verão de todo candidato o que se almeja é a maioria dos votos possíveis! Eis aí a epifania eleitoral… A fim de se respeitar o desejo da maioria, quando não alcançada em 1º turno, os 2 mais votados vão para um mano a mano no 2º turno. E para se obter a vitória é necessário um elemento unificador, algo que o vencedor tenha conseguido catalisar para si que seja muito relevante para uma maioria que se dá ao trabalho de ir às urnas e não anular ou votar na tecla branca.

O Presidente FHC, único a conseguir levar a cadeira do planalto em 1º turno (desde o advento da eleição em 2 turnos) unificou o país em torno de uma ferida que nos doía a todos: a inflação! Ao derrotá-la, ainda no governo Itamar, o sociólogo passeou na eleição de 1994 em que tive a oportunidade de estrear como eleitor e votar no hoje senador Espiridião Amin. Os candidatos que não conseguiram assumir a paternidade deste feito histórico, ou se colocaram contrários a ele, viram o uspiano nadar de braçada quando o escrutínio terminou.

Mais recentemente, em 2018, não havia um tema único, mas alguns que eram, naquele momento, caros à maioria dos brasileiros: o combate à corrupção e à violência urbana foram os motes principais daquele pleito, tendo como coadjuvante de peso uma forte rejeição à política dita tradicional, o que abriu espaço para os chamados outsiders. O Presidente Bolsonaro foi sem dúvida quem melhor capturou este sentimento aos olhos do eleitorado e com expressiva votação sagrou-se vencedor em 2º turno com quase 60 milhões de votos.

Por tudo que vem ocorrendo no mundo desde os primórdios de 2020, com a chegada do COVID, nascido 1 ano antes, na vida de todo e qualquer terráqueo, a pauta da saúde passou a dominar, inequivocamente, o debate público e privado, no Brasil e no mundo, de modo que com a pandemia ainda em curso, quero crer que o tema saúde será o carro chefe da disputa de Outubro próximo. Quiçá, seja o ofício da turma da bata branca o elemento catalisador responsável por unificar a maioria “válida” do eleitorado em torno do ocupante da cadeira mais importante da política nacional a partir de 2023.

Pode ser que o debate fique no raso, dando palco para discussões secundárias como se foi válido ou não o uso da hidroxicloroquina; se a vacina foi ou não eficaz em imunizar ou só um elemento abrandador da gravidade; se a máscara deve ou não ser abandonada no dia a dia; se o passaporte sanitário confere ou não alguma diferença no curso da pandemia…

Mas imagino que pra ser polo de atração de um eleitorado que se tornou mais “especializado” no tema por conta destes 2 anos de pandemia, será necessário um mergulho mais fundo e se discutir como melhorarmos o acesso ao sistema de saúde; como efetivamente diminuir a incidência de AVC e de infarto; como não nos tornarmos um país de diabéticos; como não se tornar cego por conta de uma catarata; como não precisar operar uma vesícula e uma hérnia de urgência; como não perder a capacidade de se locomover na fila aguardando uma prótese de joelho; como se informatizar as informações da saúde; como se aplicar de modo mais efetivos o orçamento público na área; como tornar o ecossistema da saúde algo sustentável, que gere valor ao usuário e que esteja disponível, quando necessário, a cada de um nós.

Já tivemos a eleição da redemocratização; da estabilidade da moeda; da esperança; da decepção; do combate à corrupção e da antipolítica. Talvez seja agora a nossa vez. A vez do usuário, do pagador de imposto, do profissional do setor, da criança, do adulto e do idoso; quem sabe é a hora do homem, da mulher. Oxalá seja a eleição da política: da política de saúde!

*Marcus Vinicius Dias é médico, gestor público e mestre em economia.

Foto: Reprodução. 

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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