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PÁTRIA – Terrorismo e Liberdade

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Você já ouviu falar no País Basco?

É raro alguém responder “sim”, então adianto que se trata de uma comunidade autônoma bem ao norte da Espanha, status semelhante ao da Catalunha. Além da diferença cultural gritante, os bascos se comunicam em Euskera, um idioma de raiz ancestral desconhecida bem mais antigo que as línguas latinas. Apesar de sua capital ser Vitória, Bilbao é a cidade mais conhecida, e se você é fã de futebol vai lembrar de dois times que disputam a La Liga (Liga espanhola): o Real Sociedad e o Atlético Bilbao, sendo que o último, por motivos políticos, só aceita jogadores nascidos localmente.

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O povo basco ocupou a região às margens do Golfo da Biscaia no início do Paleolítico, muito antes de os castelhanos fixarem residência na Península Ibérica. No entanto, com o passar dos séculos, foi conquistado por diversos outros povos até vir a fazer parte do Reino Espanhol. Em meados da década de 30, bascos, navarros e catalães ainda possuíam liberdade de falar seus idiomas e ensiná-los aos mais jovens, assim como organizar e participar de celebrações em seus povoados. Tudo mudou com a ascensão do ditador Francisco Franco ao poder espanhol, proibindo e tornando crime qualquer manifestação cultural que não fosse castelhana. Surge então o maior terror da população: o ETA (Euskadi Ta Askatasuna ou Pátria Basca e Liberdade), em 1959.

A série que dá nome a esse artigo nos transporta para a rotina tumultuada das famílias bascas nos anos 90. Bittori e Miren são duas amigas de longa data devido ao forte vínculo entre seus esposos, Joxian e Txato (o último um empresário bem sucedido). Os filhos de Bittori e Txato são criados juntos aos do segundo casal, que não é menos importante na trama. Através das ruas cinzas de Donostia e a paleta sombria escolhida pela direção de fotografia, é possível compreender a angústia de viver entre evitar a polícia espanhola (que persegue e humilha a população) e pagar contribuições para manutenção da existência do ETA, sob ameaças de ter a família assassinada.

Mesmo o grupo tendo sido forjado durante a ditadura de Franco, com a prerrogativa de trazer independência a Euskal Herria (nome em Euskera do País Basco), sua existência perdurou até 2011 quando declarou um cessar fogo permanente. Assim como muitos jovens idealistas e revoltados com a opressão do poder central (boa desculpa para se tornar vândalo, não?), o filho mais velho de Miren e Joxian se torna membro do ETA, defendendo uma pátria “livre, socialista e nacionalista” como se fosse possível associar essas três palavras. Apesar dos ideais supostamente nobres, Joxe Mari age de modo violento com a própria família, agredindo aos pais e incendiando o transporte público utilizado pelas pessoas do seu próprio povoado.

Quanto maior o envolvimento do personagem com as ações terroristas, maiores são as chantagens e agressões impostas ao povo que diz defender. Isso fica evidente quando Txato se torna alvo da organização por não pagar as contribuições exorbitantes que são exigidas, afinal, os empresários são opressores e devem aceitar pagar pela própria vida. Ao se posicionar, Txato e sua família viram os inimigos públicos dos vizinhos, que os excluem das atividades e não mais lhes dirigem a palavra. Até aqui tudo caminha para odiarmos o Joxe Mari, correto? O cenário fica confuso para o telespectador quando vemos a hostilidade espanhola para com os adeptos do Euskera, além da tortura física e psicológica empregada aos presos políticos, nos fazendo compreender parte da revolta dos que desejam a independência.

Entretanto, o que nasceu como resposta a uma ditadura e ausência de liberdade, se torna outro lado – idêntico, porém com roupagem marxista – do comportamento totalitário monarquista, tornando os cidadãos bascos reféns não só da coroa, mas dos próprios compatriotas. PÁTRIA é excepcional em todos os âmbitos, apresentando uma adaptação realista do livro escrito por Fernando Aramburu; atuações impecáveis de talentos em ascensão como Loreto Mauleón, Jon Olivares e Eneko Sagardoy; e o mais importante, nos fazendo repensar o que queremos para o futuro do Brasil nas eleições de 2022.

Valeu a pena trocar um extremo pelo outro?
A política brasileira se resume a Lula e Bolsonaro?
Quais alternativas temos que não envolvam endeusar uma figura ou partido político?

A história reforça que os extremos não resolvem disparidades socioeconômicas, pois seus métodos totalitários criam novos meios de coerção e submissão do povo a ser “salvo”. A liberdade só triunfará quando notarmos que não lutamos uns contra os outros, mas contra o Estado.

PÁTRIA está disponível na HBO GO.

Foto: Daniele Schirmo.

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Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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