*Douglas Sandri
Calma, em pouco tempo os preços e o abastecimento voltarão ao normal.
Quando algo fica mais escasso, seu preço aumenta. É o que acontece com o preço do tomate na entressafra, quando ele se torna escasso em algumas regiões. Esta variação no preço passa uma informação valiosíssima para quem produz: as pessoas precisam e querem mais dos seus produtos. Em uma epidemia é natural que os artigos de prevenção tornem-se instantaneamente procurados pelas pessoas.
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Diante da situação as indústrias aceleram a produção. Contratam mais gente, trabalham em turno extra ou recorrem a outras formas de produção – o que pode custar mais do que o normal. A indústria o faz, pois o preço mais elevado compensa. Preço mais elevado não significa necessariamente maior margem de lucro, muito embora haja sempre alguém disposto a tentar tirar vantagem da história.
Quando o governo limita o preço do álcool gel através de tabelamento, congelamento ou o nome que for, a produção extra que custaria mais do que a produção normal simplesmente não acontece e o produto continua escasso. Com o esvaziamento das prateleiras, a procura por ele aumenta ainda mais seu preço. Aí que começa a valer à pena a venda no mercado paralelo que opera em preços surreais sem qualquer garantias de procedência ou qualidade.
Por outro lado, no da demanda, do consumidor, com o preço mais alto, a tendência é de que o produto seja racionalizado. Em função do preço mais alto, ao invés de alguém comprar um estoque que não seria utilizado, mais fica disponível para quem precisa.
O preço é uma conversa entre o consumidor e a indústria, que perpassa toda a cadeia, sem que seja preciso dizer uma palavra. Da gôndola da farmácia, passando pela distribuidora, pelo frete do caminhoneiro, a indústria sucroalcooleira até o produtor de cana de açúcar.
Quem aqui lembra dos fiscais do Sarney da época do congelamento de preços? Do que aconteceu na URSS, Cuba ou Venezuela? Ou o que está acontecendo na Argentina agora. Congelamento é populismo pintado de boas intenções do governante, que entrega escassez ao povo na ponta, justamente o inverso do que se propõe.
Quem aqui lembra dos fiscais do Sarney da época do congelamento de preços? Do que aconteceu na URSS, Cuba ou Venezuela? Ou o que está acontecendo na Argentina agora.
Já imaginou o Brasil sem álcool gel neste momento? É o que iria acontecer se o preço fosse tabelado. Imagine como se alastraria o coronavírus com um batalhão de fiscais indo de farmácia em farmácia. Felizmente nenhum governante suscitou tamanha besteira aqui no Brasil.
Em uma epidemia como a que vivemos hoje, não há tempo para aumento rápido da produção, os preços aumentam primeiro sinalizando à indústria que mais deve ser produzido, mesmo em operações que custam um pouco mais caro. Passado o primeiro momento, com os ganhos de escala, aumento da oferta e queda da demanda – com o maior volume de produção e o estoque formado pelos consumidores, que deixam de procurar o álcool gel com tanta intensidade, o preço cai ao mesmo patamar ou até inferior ao inicial.
Interferir neste processo faz com que os preços disparem mais do que se o mercado for mantido livre, prejudicando em especial os mais pobres, como vemos nos países que adotaram economias planificadas de planejamento central.
*Engenheiro eletricista (UFRGS) e assessor parlamentar na Câmara dos Deputados.
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