Geringonça Charrúa - Coluna Debate Aberto

Geringonça Charrúa

21.11.2019 03:33

JEFFERSON VIANA*

A geringonça foi um acordo político firmado entre partidos de esquerda em Portugal em 2015 para derrubar a coalizão Portugal à Frente, composta pelo Partido Social Democrático e CDS – Partido Popular do poder no país luso, tirando do cargo de primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, filiado ao PSD. Esta aliança entre partidos de esquerda durou até o mês passado, quando o Partido Socialista deixou a aliança por intermédio do premiê Antônio Costa. Nas Américas, mais precisamente no Uruguai estamos vendo algo parecido com a geringonça sendo criado, mas com um viés mais à direita.

O país é governado desde 2005 pela Frente Amplio, partido de esquerda ligado ao Foro de São Paulo e que tem como principais figuras Tabaré Vasquez, atual presidente, e José Mujica, ex-presidente do Uruguai entre os anos de 2010 e 2014 e atualmente exercendo o mandato de senador. Atualmente, a legenda sofre críticas pelas mesmas razões que o Partido dos Trabalhadores sofre no Brasil desde 2014: aumento dos índices de criminalidade, casos de corrupção e problemas econômicos. Neste ano, estão ocorrendo eleições no Uruguai e o segundo turno do pleito irá acontecer no próximo domingo, 24. De um lado, o candidato oficialista Daniel Martinez, e de outro o oposicionista Luis Lacalle Pou.

Lacalle Pou é filho do ex-presidente uruguaio Luis Roberto Lacalle e atualmente exerce o mandato de senador. É filiado ao Partido Nacional, partido de inspiração conservadora fundado em 1836. Nos últimos tempos, a legenda tendeu a adotar políticas de centro, defendendo medidas como o Estado de Bem-Estar Social em seus projetos de governo. Porém, Lacalle vem sendo empurrado a defender posições mais liberais e conservadoras desde as prévias do Partido Nacional. O senador teve que enfrentar Juan Sartori, empresário do setor agropecuário que apresentou uma plataforma de governo mais conservadora, forçando a campanha de Lacalle Pou a falar de temas como a influência do Governo da Venezuela na política externa do Uruguai e a escalada da criminalidade no país.

Lacalle Pou venceu as prévias do Partido Nacional e no primeiro turno teve que manter um discurso pesado mais à direita, devido a candidatura do ex-comandante do Exército uruguaio Guido Manini Ríos, candidato pelo Cabildo Abierto. Manini se vendeu como o “Bolsonaro uruguaio” e teve no primeiro turno uma boa votação, com 12% dos votos. No primeiro turno Martínez teve 40%, enquanto Lacalle Pou 29%. Porém, após o início do segundo turno, surgiu uma espécie de geringonça uruguaia. Ernesto Talvi do Partido Colorado (partido de posição mais liberal), Guido Manini Ríos do Cabildo Abierto (partido de posição mais conservadora), Edgardo Novick do Partido de La Gente (partido de posição mais à direita) e Pablo Mieres do Partido Independente (partido de posição mais social-democrata) se juntaram à campanha do Partido Nacional para derrotar Daniel Martínez e a Frente Amplio.

Atualmente, Lacalle Pou lidera as pesquisas do segundo turno nas eleições do Uruguai, muito devido a ampla aliança realizada no segundo turno e tudo indica que o Partido Nacional vencerá as eleições no domingo. Caso logre êxito, a geringonça charrúa será testada na maneira de se governar de Lacalle Pou: se este tenderá a políticas menos agressivas que não contenham a crise existente no Uruguai, fomentando uma possível volta da esquerda no Uruguai como aconteceu recentemente na Argentina, ou se tenderá a um caminho mais à direita, realizando reformas de maneira imediata e pacificando o país. O resultado eleitoral de domingo e o futuro vão dizer em qual caminho que o Uruguai seguirá com a sua geringonça.

*Jefferson Viana é secretário parlamentar da Câmara dos Deputados, acadêmico em História e colunista do site Sentinela Lacerdista


Foto: Luis Lacalle Pou (Gaston Britos / FocoUy, Creative Commons)

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