fbpx

O fim das liturgias dos cargos

Compartilhe

POR FLORIANO PESARO

Com a aproximação entre representante e representado a partir do avanço das redes sociais no campo político e, consequentemente, eleitoral, mandatários de cargos eletivos e mesmo executivos indicados procuraram aproximar-se em forma e conteúdo do coloquial. Essa busca por estabelecer uma conexão mais fina com “as ruas” está levando, em algumas situações – e nos mais elevados cargos – a casos de flagrante quebra de decoro e abandono da liturgia. Para além do risco ao que podem ser considerados simples ritos, quando há abandono da liturgia do cargo ferem-se também a legitimidade e a credibilidade das instituições num Estado Democrático de Direito.

No Brasil o fenômeno que vem flexibilizando o ‘comunicar-se” de mandatários e governos não é tão novo. A partir do primeiro Governo Lula, passaram a ser corriqueiros episódios em que o mandatário maior do Brasil usava termos considerados chulos ou minimamente inapropriados para a função que ocupava. Foi a “porteira aberta” para o que viria. Instituições sérias passaram a tratar cidadãos de forma demasiadamente informal, causando até tensões sociais e judiciais. Governos se viram em meio a gafes e polêmicas ao tentar “lacrar” – como se diz na internet – e discursos ou comunicados em tom oficial passaram a soar, já à primeira vista, como falsos.

Após as eleições americanas que fizeram ascender o então verborrágico republicano Donald Trump ao cargo de Presidente dos EUA, o Twitter passou a ser uma espécie de Diário Oficial “não oficial” onde declarações e decisões de importâncias à nível de segurança nacional passaram a ser publicadas, antes mesmo de serem oficializadas – e o pior, muitas vezes em tom jocoso causando gafes diplomáticas graves.

Hoje, em terras brasileiras, com a eleição do popular, então deputado federal, Jair Bolsonaro, à Presidência, essa tendência que já existia por aqui desde as bravatas de Lula passou a ganhar contornos ainda mais acentuados. Palavreado simples e chulo com um linguajar duvidoso passou a ser sinônimo de credibilidade num claro aceno para a desmoralização das instituições democráticas. Conteúdo antes nunca imaginado publicado por um mandatário foi feito numa rede social.

Hoje, em terras brasileiras, com a eleição do popular, então deputado federal, Jair Bolsonaro, à Presidência, essa tendência que já existia por aqui desde as bravatas de Lula passou a ganhar contornos ainda mais acentuados. Palavreado simples e chulo com um linguajar duvidoso passou a ser sinônimo de credibilidade num claro aceno para a desmoralização das instituições democráticas. 

Declarações ofensivas a determinados grupos são corriqueiras por parte de mandatários nos dias atuais no Brasil. O que começou como uma forma de alinhavar a relação entre representantes e representados avançou os limites do aceitável. Houve, sim, momentos de iniciativas interessantes, como algumas Prefeituras pelo Brasil que inovaram sua comunicação e trouxeram o cidadão para perto. Contudo, sem desrespeito ou quebra de liturgia.

Considerando o nosso esgarçado tecido social, onde as polarizações não acabaram – apenas se mantêm com polêmicas diárias acerca até de temas de décadas atrás –, esse tipo de comunicação violenta, (des)institucional e, por vezes, desrespeitosa que herdamos da era lulopetista serve apenas para acirrar ainda mais os conflitos sociais e mostrar que nossas instituições passam por um processo de sério descrédito frente à população que precisa ser enfrentado.

*Floriano Pesaro é sociólogo e ex-deputado federal pelo PSDB-SP.

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

Mais Opinião

plugins premium WordPress
Are you sure want to unlock this post?
Unlock left : 0
Are you sure want to cancel subscription?