Criatura humana humanal - Coluna

Criatura humana humanal

14.09.2018 07:40

Estranhou? Mas esta expressão é parte integrante do seu cotidiano. Não sabia? Explico.

O artigo 1º da nossa Constituição, que contém as regras pelas quais nós devemos conviver pacífica e harmoniosamente em sociedade, diz: “A República Federativa do Brasil…tem como fundamentos: …III – a dignidade da pessoa humana.” Ora, “pessoa”, pelo Michaelis, no sentido aqui usado, significa “criatura humana”; “humana”, por sua vez, significa “relativo à natureza do homem, humanal”; então, a expressão expandida equivalente é “criatura humana humanal”. Isto é o que todos nós somos, de acordo com a criatividade exótica dos nossos ilustres constituintes de 1988.

Mas há outras duas interpretações para o uso da expressão “pessoa humana”. Será que os constituintes aboliram do alcance da Constituição as “pessoas desumanas”, as que nos tratam com crueldade? Ou descobriram nas florestas do Brasil lobisomens e, para proteger-nos, excluíram as “pessoas animais”?

Há que perguntar-lhes. Enquanto isso, contentemo-nos em sermos “criaturas humanas humanais”.

Assassinatos do português, língua nacional pela Constituição, e do bom senso como este salpicam o mundo político brasileiro e são espalhados pela mídia ingênua. Quer ver mais? Por exemplo: “vontade política”, “afrodescendente”, “pré-candidato”, “esquerda” e “direita”, “prioridade absoluta”. “Hum, eu estou com uma vontade política tão grande de ir ao cinema!”. “Meus pais e eu temos a pele branca e nascemos em Angola, vivo no Brasil, sou afrodescendente?”. “Posso dizer a todo mundo que quero ser presidente da República e o que farei quando chegar lá, mas não posso dizer que sou candidato”. E, já que prioritário é o que vem em primeiro lugar, quem sabe o que é “prioridade relativa”? E quem me define em três linhas o que são “direita” e “esquerda” em política? Há anos faço estas duas perguntas às maiores sumidades em política, em vão.

É a absurdos desse tipo que nos submetem nossos políticos. Estamos ferrados.


*Sergio Moura é autor do livro Podemos ser prósperos – se os políticos deixarem.*

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