O perigo da bolsoinflação
16.12.2021 06:45
O Brasil encontra-se em uma grande cilada. Armadilha parecida àquela enfrentada na década de 70 pelos EUA e outras grandes economias ocidentais quando o choque de petróleo (em menos de seis meses o preço global do barril de petróleo subiu quase 300%) ocasionou um aumento geral de preços. Além da inflação, o período também foi marcado pelo baixo crescimento e altas taxas de desemprego. Pela confluência atípica da inflação com a estagnação econômica esse quadro econômico passou a ser conhecido como estagflação e é um dos cenários mais desafiantes da política econômica.
Está claro que os efeitos da estagflação se aplicam perfeitamente ao panorama atual da economia brasileira, quando em dezembro de 2021 a inflação acumulada chegou ao patamar de 10,75%, o PIB recuou 0,1% e o desemprego chegou aos 14% da população. Contudo, ao analisarmos as causas desse cenário, percebemos que o contexto brasileiro diverge e, infelizmente, é mais preocupante que o da estagflação verificada na década de 70.
Enquanto na década de 70 a inflação tinha uma causa externa, o aumento expressivo do preço do petróleo em pouquíssimo tempo, no Brasil atual a inflação tem uma causa interna e advém, principalmente, da incerteza política e da incredibilidade técnica gerada pelo governo Bolsonaro. A evasão de divisas que originou uma desvalorização expressiva do Real e consequente impulsionamento da inflação foi ocasionada pela falta de confiança que os investidores têm no Brasil. A reversão deste quadro é muito difícil, dado que Bolsonaro continua no poder.
Pelo lado da política fiscal, que seria uma forma de balancear o estrago feito no cambio, tampouco Bolsonaro ajuda, pois mostra seu potencial populista, insensível ao momento delicado que o país se encontra, ao aprovar orçamentos secretos milionários e o calote nos precatórios.
Por este motivo o Brasil não vive apenas uma simples estagflação, vivemos a bolsoinflação, quando as taxas de inflação e desemprego não apenas apresentam uma relação direta de alta, mas também a causa deste cenário não recai apenas sobre um fator econômico, mas principalmente político. O gráfico abaixo mostra que a inflação brasileira se encontra duas vezes maior que a média mundial.
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Trading Economics, nov, 2021
Resta ao Brasil confiar na capacidade do Banco Central (BACEN) consertar as bobagens do atual governo. Nesta semana BACEN elevou a taxa de juros mais uma vez. Esse foi o sétimo reajuste consecutivo na taxa de juros básica, a Selic, depois de passar seis anos sem elevação. Por unanimidade, o Copom elevou a Selic de 7,75% para 9,25% ao ano.
A elevação da taxa de juros tem como efeito positivo o controle da inflação*, que é um dos principais entraves para uma economia estar equilibrada no longo prazo. Por outro lado, a elevação da taxa de juros traz efeitos negativos, pois além de sobrecarregar as contas públicas e transferir renda ao setor financeiro, ela compromete a recuperação econômica.
Com o atual patamar, passamos a ocupar a liderança mundial de taxa de juros real, conforme mostra o gráfico abaixo:
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Infinity Asset (27/10/2021)
Em um momento em que a maioria dos países do mundo trabalha com uma taxa de juros real negativa devido a necessidade de aquecer a economia diante da enorme crise sanitária que passamos, o Brasil segue o caminho totalmente oposto, pois precisa conter a bolsoinflação. A Bolsoinflação terá efeitos no longo prazo. Efeitos esses que bolsa família nenhum conseguirá reverter: desemprego, perda de riqueza das famílias e ampliação da desigualdade social.
Logicamente que a crise sanitária internacional trouxe desafios a todos os governos do mundo, mas quando analisamos a forma que esses governos superaram esses desafios, percebemos a instabilidade e a insensibilidade política do governo Bolsonaro, que trouxe obstáculos ainda maiores para serem vencidos. Bolsonaro não apenas não fez o seu dever de casa, como também matou aula, mentiu para professora e pixou o muro da escola. Agora todos nós pagaremos a conta da bolsoinflação que esse menino mimado e mal criado nos deixou.
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