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Os desafios para candidatos liberais nas eleições, por Priscila Chammas

A jornalista Priscila Chammas, candidata a vereadora de Salvador em 2016, compartilha os principais desafios e aprendizados de sua experiência em campanha eleitoral a convite do Boletim da Liberdade

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PRISCILA CHAMMAS*

Há dois grandes desafios para um candidato a cargo público liberal ou libertário: a burocracia de fazer uma campanha eleitoral sem infringir nenhuma lei e agradar as pessoas de fora da “bolha” liberal.

Se para alguém “normal”, a burocracia brasileira já é algo irritante, calcule para um liberal.  Mais que isso. Minarquista, sem experiência nenhuma com política e nem dinheiro para contratar uma equipe que cuidasse só disso, enquanto eu me concentrava no que é importante: pedir votos. O resultado é que perdi dias preciosos de campanha (e de trabalho, depois que a campanha acabou) tendo que resolver burocracia inútil.

Tudo é calculadamente complicado, da exigência de abrir duas contas bancárias (uma delas, obrigatoriamente em banco público, para melhorar a situação) às regras esdrúxulas para jantar de adesão e arrecadação privada. Quando você acha que acabou, vem o julgamento das contas de campanha, que te nivela por baixo, partindo do princípio de que você é culpado até que se prove o contrário.

Foto: Reprodução / Facebook

Abrir a conta no Banco do Brasil foi um calvário, pois nenhum funcionário dominava as minúcias de abertura (e fechamento) de conta de campanha, e fizeram de tudo para que eu desistisse e fosse importunar outro banco. Vencida esta etapa, os bancos entraram em greve, me impedindo de depositar doações conseguidas a muito custo (mas que só podiam ser feitas na boca do caixa). Resultado: tive que devolver alguns cheques. Na hora do julgamento das contas, outro transtorno. Depois de meio mundo de notas, recibos, extratos, carimbos… o juiz implicou porque um doador de campanha era sócio de uma empresa no interior da Bahia, que em 2005 obteve algum contrato com o governo.  Você deve estar tentando imaginar qual a ilegalidade nisso. Também fiquei horas tentando entender.

Eles acharam que poderia ter havido um cruzamento de doações: o governo dá dinheiro pra empresa e ela repassa pra mim. O que faz todo sentido, pois desde 2005 eu nutro o sonho de sair candidata a vereadora em Salvador, e por isso tratei de fazer logo meu conchavo com um empresário de uma cidade quase 1 mil quilômetros distante, que iria desviar algo em torno de 500 reais (!!) em dinheiro público pra minha campanha a troco de… sei lá! Vai entender cabeça de juiz eleitoral.  

Depois de mais algumas horas perdidas, o problema foi resolvido e o juiz decidiu que não sou uma criminosa. Que bom, né? Mas o fato é que o sistema eleitoral é feito para gente de fora não conseguir entrar, e várias vezes a irritação quase me fez desistir mesmo. Mas fui em frente. E cheguei ao segundo desafio: nossas idéias são ótimas, e fazem todo o sentido, mas as pessoas ainda são estatistas demais para aceitar coisas que lhes pareçam muito radicais. E a medida do radicalismo para as pessoas do mundo lá fora é um pouco diferente da nossa.  

As pessoas ainda são estatistas demais para aceitar coisas que lhes pareçam muito radicais. E a medida do radicalismo para as pessoas do mundo lá fora é um pouco diferente da nossa.

Sempre cito o exemplo do meu projeto preferido de campanha, que teve que voltar pra geladeira assim que colocou a cara pra fora da bolha. Existia um problema: o comércio de rua em Salvador estava decadente e as lojas estavam falindo. A gente tinha uma solução: criar um ancapistão em uma dessas ruas (chamada Barroquinha), uma tax free zone, onde nenhum comerciante precisaria pagar qualquer imposto municipal, mas em compensação também não teria direito a nenhum serviço público municipal. Eles teriam que descartar seu próprio lixo, trocar as lâmpadas dos postes, tapar os buracos…

Desta forma – em nossas divagações – eles se uniriam e buscariam fornecedores mais eficientes, contribuindo para trocar o monopólio por livre concorrência e ao mesmo tempo baratear os preços de seus produtos. Com produtos baratos, as pessoas teriam um incentivo para voltar a fazer compras ali e… bingo! O comercio da Barroquinha seria reativado e o projeto estendido para outras ruas. Nem precisa dizer que a ideia fez o maior sucesso com a equipe de campanha, composta por voluntários liberais e libertários, ansiosos por tirar as garras incompetentes do governo de nossas vidas. Tio Mises ficaria orgulhoso. Mas a animação durou pouco.

– Nããão! Eu não me importo de pagar imposto, só quero ter serviços de qualidade em troca.

Foto: Reprodução / Facebook

E não adiantava a gente explicar que o governo nunca vai dar serviços de qualidade, que não há incentivos para ele ser eficiente, que os políticos são incompetentes, maus e comem criancinhas. Os comerciantes locais nem quiseram saber do nosso ancapistão na Barroquinha. O que acabou fazendo mais sucesso foi o nada criativo projeto de vouchers educacionais, que os Chicago boys já enjoaram de ouvir falar e os austríacos não gostam porque acham soça, mas são uma excelente introdução às idéias de liberdade. Redução de salários e verbas de gabinete dos vereadores também teve uma boa aceitação. A pauta da defesa do Uber, tive que dividir bola com (pasmem!) um petista. Desburocratização e revogação de leis inúteis completavam a lista de propostas iniciais.

A campanha acabou, tive 3.711 votos e fiquei de segunda suplente. Não foram 3.711 liberais. Teve gente que votou por que me achou com cara de honesta. Outros, porque eu era novidade, não tinha histórico político. Teve gente que votou porque me achou bonita, porque me conhecia, porque alguém de confiança pediu, e por uma infinidade de outros motivos. Ficou o aprendizado de que se fechar na bolha onde todos concordam com você e sair de lá com projetos mirabolantes, não leva muito longe. Se você quer chegar nas pessoas de senso comum (e vai precisar delas), precisa ir devagar, dar passos menores, porém sempre na direção correta. 

*PRISCILA CHAMMAS é jornalista, coordenadora estadual da Bahia do PSL/Livres e foi candidata a vereadora de Salvador em 2016, obtendo 3.711 votos e alçando a segunda suplência.

 

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