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Em entrevista, presidente do Instituto de Formação de Líderes de SP revela o funcionamento da entidade

Miguel Furian Campos aborda os ciclos de formação e os encontros fechados aos seletos associados do instituto; nesta entrevista exclusiva, ele também aborda temas como educação, corrupção e futuro
Miguel Furian discursa em evento de posse ocorrido em São Paulo em abril (Foto: Divulgação)
Miguel Furian discursa em evento de posse ocorrido em São Paulo em abril (Foto: Divulgação)

Mais do que orientar empreendedores em um sentido prático de seus ramos de negócio, “formar jovens que tenham como uma de suas missões transformar a sociedade brasileira em uma sociedade que respeite as liberdades individuais”. É assim que o Instituto de Formação de Líderes de São Paulo – que já fincou raízes também em outras regiões do país – define a sua própria tarefa.

Engajado em colocar em prática o propósito que estampa em seu nome, o IFL oferece aos seus associados uma experiência com autores como Mises, Hayek, Bastiat e Milton Friedman, ao mesmo tempo em que suscita a discussão em eventos como o Fórum Liberdade e Democracia. Para conhecer essas e outras iniciativas e entender o que o IFL vem desenvolvendo, o Boletim da Liberdade entrevistou Miguel Furian Campos, novo presidente do IFL-SP.

Boletim da Liberdade: Como nasceu, quais são os objetivos e como funciona na prática a rede de Institutos de Formação de Líderes pelo Brasil?

Miguel Furian Campos: O IFL surgiu aqui em São Paulo em 2007 quando o empresário David Feffer, que é do Conselho de Administração do Grupo Suzano, foi dar uma palestra no IEE [Instituto de Estudos Empresariais] lá em Porto Alegre – que é uma instituição já com mais de 30 anos de idade. Nessa palestra, ele gostou muito da ideia e não entendia por que não existia um grupo como esse em São Paulo. Então, em 2007, ele acabou trazendo o mesmo formato que existia no IEE aqui para a cidade.

Qual é esse formato? A gente se reúne toda segunda-feira em um restaurante em São Paulo, num evento sigiloso, em que só os nossos associados podem estar presentes, com cerca de 40 a 60 pessoas, e chamamos para participar um palestrante que é ou um economista, ou um político, ou grande empresário, ou ainda alguma personalidade da sociedade civil, mas todos eles tendo em comum um brilhantismo nas áreas em que atuam.

A gente quer pessoas boas e que estão com momentum, digamos assim. Esse é o plano. Por exemplo, estamos com o plano de chamar todos os presidenciáveis para falar nessa reunião do IFL. Chamamos grandes empresários também – esse ano tivemos, só para citar alguns, Roberto Setúbal [ex-presidente do Itaú], Sérgio Rial – que é presidente do Santander – e ontem tivemos o Eduardo Mufarej, CEO da Somos Educação. Eles sempre falam sobre temas diversos que a gente combina previamente.

A gente se reúne toda segunda-feira em um restaurante em São Paulo em que só os nossos associados podem estar presentes, com cerca de 40 a 60 pessoas, e chamamos para participar um palestrante que é ou um economista, ou um político, ou grande empresário, ou ainda alguma personalidade da sociedade civil.

Fora esses eventos semanais, o IFL também se engaja em diversos outros projetos que visam a colocar todos os ensinamentos que os associados têm nos jantares na prática. Um deles é um blog no portal Infomoney, em que a gente escreve sobre ideias e assuntos que nos são muito caros. É um portal com muitos acessos e temos engajado muitos associados a escreverem lá; também temos um projeto hoje com a prefeitura de São Paulo para diminuir o tempo de abertura de negócios na cidade, o que estmaos fazendo junto com a Endeavor, e que hoje vejo que está mais no caminho da conclusão – e com sucesso, felizmente. Temos trabalhado também para impactar aqui o ambiente de negócios da cidade.

E um terceiro projeto, que temos feito desde a última greve geral no final de abril, é dar aulas em escolas sobre empreendedorismo e economia de mercado. Contatamos escolas de renome em São Paulo ou até escolas da periferia, para, numa sexta-feira de manhã, a gente conseguir acessar os alunos e dar essas aulas. É um material preparado pela gente e temos ampliado bastante esse programa. Inclusive, agora estamos vislumbrando uma parceria com a Somos Educação. Esses são os braços mais práticos do IFL em que os associados participam e se engajam bastante. O objetivo, no fim, é justamente formar novas lideranças. Mas com os princípios que definiram lá atrás a fundação do IEE: respeito à propriedade privada, ao Estado de Direito, à liberdade individual…

Então a gente se pauta nesses princípios que são os guias do instituto. Outra coisa que a gente tem feito e, que vai para a quarta edição este ano, é o Fórum Liberdade e Democracia. No ano passado, tivemos um fórum com mais de 2.000 pessoas presentes e outras 3.500 pessoas que assistiram online na transmissão ao vivo. É um evento que tem engajado muito. Temos conseguido muito apoio das empresas. Esse ano vamos ter o fórum no dia 13 de novembro cujo tema será “tecnologia”. Então o que a gente imagina é fazer um fórum cada vez maior. Nosso objetivo para esse ano é fazer um evento para 1.500 pessoas presentes e 15 mil online.

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Cerimônia de Posse da Diretoria do IFL/SP em 2017 contou com a presença do vice-governador de São Paulo, Marcio França (Foto: Divulgação)
Cerimônia de Posse da Diretoria do IFL/SP em 2017 contou com a presença do vice-governador de São Paulo, Marcio França (Foto: Divulgação)

Boletim da Liberdade: Muitos afirmam que as escolas e universidades tradicionais no Brasil deixam a desejar na conscientização dos jovens sobre a relevância da livre iniciativa para a sociedade. Como você enxerga esse quadro? É preciso mudá-lo, e como?

Miguel Furian Campos: A gente tem um problema claro na qualidade dos professores brasileiros. Acho que aí mora, hoje em dia, o principal problema. Hoje você tem professores no Brasil que não têm prática; o sujeito que dá aula de matemática faz um curso de três anos de matemática na faculdade e faz seis meses de licenciatura para poder dar aula. Um médico tem seis anos de curso de Medicina e mais três a cinco anos – às vezes aqueles que querem ser clínicos gerais dois anos de residência. Ou seja, o sujeito tem mais prática.

Hoje vejo que, nas nossas universidades, para formar novos professores, eles não focam na parte prática: ou seja, as pessoas, o indivíduo, o futuro professor entender um pouco o que é ensinar e a dificuldade de ser professor. Temos que começar a formar bons professores, e essas coisas vão começar a melhorar. Um bom professor é aquele que permite que o aluno discorde dele. Aí vem também um outro problema do Brasil. O que a gente nota, e eu vou muito para os Estados Unidos, é que lá os professores permitem ao aluno discordar ou até gostam de que o aluno discorde para gerar debate nas aulas. Já falamos com alguns alunos de Ensino Médio que discordam às vezes do professor e o professor fica bravo, ou encerra o debate, ou seja, parece que o professor vai à aula dar o conteúdo programático e that’s it.

Ou seja, os estudantes aqui no Brasil não são incentivados a pensar e debater. E também estão sujeitos a matérias que não têm nada a ver com eles. Por que um cara que vai trabalhar com Economia tem que saber da cadeia de carbono? Em todos os outros países do mundo, você não tem esse enorme número de disciplinas desnecessárias. Ou no Ensino Médio o próprio jovem escolhe sua trajetória já. Acho que se começarmos a mudar esses pontos e fizermos uma reforma no Ministério da Educação, já começaremos a corrigir muito o problema da educação aqui no Brasil.

Agora, sobre o ponto da livre iniciativa, eu sou completamente contra aquele projeto do Escola Sem Partido. Acho impossível ensinar sem você dar a sua opinião. Parece que o Escola Sem Partido requer uma questão dos professores a que é impossível se chegar: ensinar a matéria aos alunos sem qualquer opinião, sendo que a própria História contada é uma opinião. Fica bastante difícil, a meu ver, você impor, ainda mais em formato de lei. Sou contra a criação de outra lei; para que regulamentar mais ainda as coisas, né? A gente já tem tantas leis no Brasil… Tem outras formas de a gente lidar com essa questão. Até gosto de uma brincadeira que fizeram: talvez o momento não seja de criar uma lei para o Escola Sem Partido, mas sim para o Escola Sem Governo.

Eu sou completamente contra aquele projeto do Escola Sem Partido. Acho impossível ensinar sem você dar a sua opinião. […] Talvez o momento não seja de criar uma lei para o Escola Sem Partido, mas sim para o Escola Sem Governo

Se a gente tiver escolas privadas de qualidade ou até escolas públicas – eu sei que é muito difícil de uma hora para outra você fechar todas as escolas públicas do país, mas se tiver, que sejam eficientes, com professores bons, engajados… Acho que por aí é a solução, mas pensar num modelo em que você restrinja o professor de dar sua opinião é complicado. Vamos qualificar esses professores para que aí sim eles passem as melhores mensagens para os alunos.

Boletim da Liberdade: Muitos liberais gostam de ponderar que, no Brasil, vive-se o “capitalismo de compadrio” – ou seja: uma economia em que, para ser bem-sucedido, faz muita diferença ter boas relações com a burocracia governamental. De certa forma, a Operação Lava Jato corrobora essa narrativa: grandes empresas, até mesmo do setor privado – caso da Odebrecht, principalmente, mas não exclusivamente – consentindo com obras superfaturadas e institucionalizando a corrupção de agentes públicos. É mesmo possível convencer as lideranças empresariais a negarem o caminho “fácil” do crescimento apenas em nome de bons valores? Qual o caminho para isso?

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Miguel Furian Campos: É muito triste ver que nesses últimos anos, principalmente agora no governo do PT, que eu acho que veio aumentando cada vez mais desde 2002, há essa ida a Brasília. A gente tem hoje 70 % do nosso orçamento indo para Brasília e parece que os empresários se preocupam muito mais em fazer lobby em Brasília a favor de seu setor ou até comprar políticos para aprovarem projetos do seu interesse do que melhorar a competitividade da sua indústria, da sua empresa. Isso atrapalha muito aquela questão do Custo Brasil. O cara olha mais para fora do que olha para dentro, e parece que aquelas empresas que olharam muito mais para fora e tiveram boas relações com o governo foram as que mais cresceram nestes últimos anos. Felizmente elas foram pegas agora.

Acho que a solução aqui é bastante simples: pensar que o empresário de uma hora para outra vai ajustar seus valores e os políticos não serão mais suscetíveis a esses casos de corrupção é acreditar em anjos e Papai Noel; a ideia mesmo, e é o que eu defendo fortemente, é a redução do tamanho do Estado. Só com a redução do Estado é que vamos reduzir casos de corrupção, e me parece que Estados mais inchados são mais corruptos. Precisamos pensar na redução do Estado para daí sim, obviamente, quando a gente chegar a um Estado menor, tentar ajustar os valores da sociedade brasileira; mas mesmo com valores ajustados, num Estado inchado, eu não consigo pensar em menos corrupção. A gente precisa atacar essa questão desse Estado que com certeza hoje está muito maior do que deveria ser.

Público no Fórum Liberdade e Democracia, organizado pelo IFL (Foto: Reprodução / Syncronize-se)
Público no Fórum Liberdade e Democracia, organizado pelo IFL (Foto: Reprodução / Syncronize-se)

Boletim da Liberdade: Quais os principais projetos que o IFL-SP desenvolve ou já desenvolveu e quais foram os impactos deles na sociedade?

Miguel Furian Campos: De certa forma, eu já respondi, mas frisando, hoje com certeza nosso maior projeto é o Fórum, que já vai para a quarta edição, e também aqueles projetos que a gente chama de “Núcleos de Defesa do Livre Mercado”, que é esse blog que a gente tem na Infomoney e outros artigos que escrevemos na grande mídia; tem o projeto junto com a prefeitura de São Paulo para melhorar o ambiente de negócios, e tem esse projeto de difundir empreendedorismo e economia de mercado nas escolas, cuja primeira edição foi nessa Sexta Livre quando houve a greve geral.

Boletim da Liberdade: Alguns grupos oposicionistas ao atual governo mobilizaram no último dia 28 uma greve pelo país, contando com a anuência de grandes escolas privadas. O IFL-SP anunciou, então, que iniciaria um criativo projeto para dar aulas aos estudantes que ficaram sem aulas em suas escolas, denominado “Sexta Livre”. Foram ministradas aulas sobre reforma da previdência, além de focar em temas como empreendedorismo e inovação. Como surgiu a ideia e como foi a realização do projeto?

Miguel Furian Campos: A ideia surgiu internamente, de associados honorários do IFL, que são aqueles associados que já passaram por todo o nosso ciclo de formação. Aliás, todos esses nossos jantares estão inseridos em um grande ciclo em que a pessoa entra no IFL como “prospect”, ela passa seis meses a um ano nessa situação e tem uma série de pré-requisitos a cumprir: leitura de livros, produção de artigo, participação em seminários liberais… Depois dessa exposição a conteúdo liberal, ele vira efetivamente associado do instituto. Posteriormente, há outros requisitos para virar “Associado 2”, que é a segunda fase dentro da associação, e, quando cumprida, pode virar diretor do instituto ou cumprir outra série de requisitos e virar honorário – ou seja, o honorário já passou por esse ciclo, já contribuiu muito com o instituto e está há pelo menos três anos lá dentro.

Precisamos pensar na redução do Estado para daí sim, obviamente, quando a gente chegar a um Estado menor, tentar ajustar os valores da sociedade brasileira

Voltando ao tema da pergunta, essa ideia [o Sexta Livre] surgiu de dois associados honorários e contou com a participação de outros associados do instituto bem pouco antes do evento. O evento foi na sexta-feira, quando foi a greve geral, e a ideia surgiu na terça-feira, quando percebemos que alguma coisa tinha que ser feita. Não poderiam as escolas pararem na sexta-feira e esses alunos ficarem sem aula. Muitos dos nossos associados estudaram nessas escolas que iam parar e ficaram indignados. Então a gente contatou alguns pais, eles gostaram muito da ideia, falamos com com o Cubo [espaço de coworking em São Paulo que o Banco Itaú é um dos sócios] e conseguimos um espaço lá de graça, e a partir daí ministramos aulas de empreendedorismo.

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Houve dois associados que contaram um pouco da trajetória profissional deles, o que ajuda muito esses estudantes de Ensino Médio a decidirem também que carreira querem seguir. Tivemos também um pouco de aula sobre previdência para explicar a esses estudantes o que realmente estava acontecendo, até para eles terem opinião própria sobre isso. Houve ainda um debate com o Joel Pinheiro da Fonseca, que falou um pouco sobre esse projeto Escola Sem Partido, para ver a opinião dos estudantes; teve uma aula do Leandro Narloch, que falou sobre a História contada de outra forma, o que foi bem legal e engajou bastante os estudantes; e a presença de mais ou menos 130 a 150 estudantes na sala do Cubo, estava lotado e o que nos chamou mais a atenção foi a capacidade de engajamento e argumentação deles.

Evento Sexta Livre (Foto: Reprodução / Youtube)
Evento Sexta Livre (Foto: Reprodução / Youtube)

Eles estavam bastante interessados, perguntaram muito, falaram bastante em ambiente de sala de aula, estavam interessados também em entender um pouco da Previdência, por que os professores estavam fazendo essa greve. O nosso intuito ali foi realmente passar o conteúdo da forma mais apartidária possível – porque o IFL é uma instituição apartidária. Obviamente é impossível passar o conteúdo sem nenhuma opinião, mas a gente tentou passar o conteúdo de forma mais apartidária possível. Foi um evento super elogiado, vários pais vieram nos falar, abriram as escolas dos filhos para trabalharmos nesse projeto, obteve repercussão na mídia também, fomos abordados por outras instituições querendo fazer parceria, enfim, e é um projeto que queremos tocar para frente e aumentar, contando com o apoio de outras instituições.

Todos esses nossos jantares estão inseridos em um grande ciclo em que a pessoa […] passa seis meses a um ano e tem uma série de pré-requisitos a cumprir: leitura de livros, produção de artigo, participação em seminários liberais.

Boletim da Liberdade: Agradecemos a entrevista e, por fim, perguntamos quais são os projetos do IFL-SP para os próximos anos.

Miguel Furian Campos: O plano do IFL para o futuro é a instituição crescer e ter renome aqui em São Paulo. Queremos ser um instituto de marca que seja chamado a debater e opinar sobre os principais temas de discussão do país e a própria cidade. Temos associados muito engajados, que leem muito, são muito bem formados, são de destaque nas empresas que possuem ou em que atuam, então a gente acha que eles têm muito a contribuir com o debate público. Então nosso sonho aqui é que o IFL cresça cada vez mais na cabeça dos paulistanos e dos brasileiros e que a gente, com isso, possa expandi-lo para outros lugares do país, quem sabe.

Hoje já tem o IFL em Belo Horizonte, em Santa Catarina, no Rio de Janeiro, estamos querendo abrir agora em Goiânia, também no Nordeste e em Curitiba. Acho que é um modelo bastante replicável e tem contribuído muito na formação das pessoas nas cidades onde está presente. Temos associados hoje já engajados na política, uma ex-presidente do IFL que é subsecretária na prefeitura do Doria, temos um ex-associado que já se candidatou a deputado, temos um associado honorário hoje que é chefe de gabinete do prefeito, e temos outros associados com diversos projetos, todos muito engajados para tentar mudar a cidade e o país. Acho que o IFL tem ainda muito a contribuir com São Paulo e o Brasil também. Estamos muito animados, porque parece um momento propício para os nossos ideais e a gente quer difundi-los cada vez mais, seja através dos nossos projetos, seja através do Fórum Liberdade e Democracia que tem crescido ano a ano.

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