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‘Exame’ faz reportagem especial sobre o crescimento do movimento liberal

Matéria da revista de negócios cita partidos, think tanks e movimentos para narrar o crescimento do ecossistema liberal; confira os principais trechos
Foto: Divulgação
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Na esteira de uma reportagem de capa dedicada à visibilidade do prefeito de São Paulo, João Doria, a revista Exame trouxe na edição dessa semana uma matéria abordando o crescimento do ecossistema liberal no Brasil. Com o título de A chance dos liberais, o texto cita algumas das principais organizações do movimento pró-liberdade do país, como movimentos, think tanks e partidos, e identifica o fenômeno como “nova direita”.

Confira, abaixo, os principais pontos da reportagem:

Origem

Há menos de uma década, os liberais brasileiros brincavam que, juntos, cabiam todos dentro de uma Kombi. É comum veteranos perguntarem uns aos outros: “Você é do tempo da Kombi, né?”. O sentimento é que o movimento liberal se prepara para uma nova fase. Nos anos 80, os pioneiros dedicaram-se a introduzir o pensamento no país pela tradução de obras. Desde 2007, 26 centros de estudos liberais surgiram país afora. Eles vendem livros, disseminam uma quantidade enorme e de textos nas redes sociais e buscam formar jovens líderes para o futuro. O senso de oportunidade explica parte da animação: o momento é ótimo para que os liberais aumentem a influência no debate público. 

Esperança

Hoje, o fracasso de políticas implementadas pelo PT (sobretudo no governo da ex-presidente Dilma Rousseff), a escalada da corrupção revelada pela Operação Lava-Jato e o esgotamento fiscal dos governos municipais, estaduais e federal apontam para uma mudança na agenda econômica. É nesse contexto que o prefeito João Doria, com propostas de privatização e melhoria do ambiente de negócios, é visto como uma chance de avanço do liberalismo econômico. “O cidadão quer liberdade para empreender, ganhar a vida e não ser achacado pelo Estado”, diz Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central. “As ideias liberais estão no ar à procura de alguém que as articule e transforme propostas em ações”.

Passado

Historicamente, os brasileiros nunca se encantaram com o liberalismo e sempre encontraram no Estado um esteio para suas necessidades e ansiedades. “O Brasil teve três fontes de pensamento que concorreram com o liberalismo no século 20: o patrimonialismo, de herança ibérica, o fascismo, que criou uma presença muito maior do que as pessoas imaginam, e o comunismo, que cresceu após a Segunda Guerra Mundial associado ao nacionalismo e ao desenvolvimentismo”, afirma o cientista político Bolívar Lamounier.

“Na América Latina e no Brasil, as elites sempre procuraram no Estado uma forma de realizar seus objetivos políticos ou econômicos”. […] O golpe militar de 1964 tirou a esquerda da política e, de início, fez reformas liberais, conduzidas por nomes como o economista Roberto Campos. Numa fase seguinte, porém, os próprios militares enveredaram por maior intervenção do Estado na economia e promoveram o capitalismo de laços – o protecionismo na área de informática foi uma das políticas mais nefastas adotadas por eles.

Perda de prestígio

Enquanto a direita mão de ferro estava no poder, a esquerda manteve seu domínio na intelectualidade algo fundamental, na definição do filósofo marxista italiano Antonio Gramsci, para a conquista do poder. Desde o regime militar, ser “de direita” ou liberal tornou-se praticamente sinônimo de autoritarismo e representação do que havia de mais retrógrado. A hegemonia cultural da esquerda foi preservada nas décadas seguintes, mesmo com a redemocratização. Houve um ensaio de recuperação do prestígio do liberalismo com a vitória de Fernando Collor de Mello em 1989 e a implementação de uma agenda de reformas para modernizar o governo. 

Crescimento nas redes sociais

Em 2015 e 2016, os movimentos ligados à direita ganharam impulso quando o sentimento de falência do governo de Dilma levou milhares de pessoas à ruas em todo o Braisl. Surgiram desses protestos, cujas pautas principais eram a defesa da Operação Lava Jato e o impedimento da petista, grupos com capacidade de mobilização, como o Movimento Brasil Livre, parte de um fenômeno que eclodiu nas redes sociais. Um levantamento da empresa de análise de redes sociais Social Bakers realizado com exclusividade para EXAME separou as dez principais páginas no Facebook – principal ambiente de articulação política hoje – de movimentos ligados à direita e à esquerda e comparou seu crescimento de março de 2015 a março de 2017. Ambos os campos cresceram, mas as páginas de direita saíram de 7 milhões para 18 milhões de seguidores, enquanto as de esquerda foram da faixa dos 5 milhões para 11 milhões.

Oportunidade

O ponto é que hoje há um espaço para discutir ideias liberais. Uma pesquisa do instituto Ideia Inteligência, encomendada por EXAME, que entrevistou 5.000 pessoas em 38 cidades, revela que 56% dos brasileiros acreditam que o que faz o país crescer é o esforço individual, e não as políticas de governo. Outros 64% acham que os serviços oferecidos por empresas privadas são melhores do que os mesmos serviços oferecidos pelo governo – ou pelo menos são iguais. Ao ser confrontados com duas questões, uma favorável e outra contrária à privatização, 54% escolheram a opção que permitia o repasse de serviços do governo à iniciativa privada. Apesar desses resultados, a percepção popular acolhe visões contraditórias: 68% dos entrevistados preferem ser funcionários púbicos em vez de ter um negócio próprio – talvez porque a ideia de estabilidade no trabalho seja tentadora em tempos de alto desemprego e crise econômica. “As pessoas admitem que o serviço privado é melhor do que o público. Essa é a janela de comunicação para debater o tema”, diz Mauricio Mouro, presidente do Ideia Inteligência. “Quais lideranças ou partidos conseguirão traduzir isso para um discurso ou uma atitude?”.

Organizações

Há alguns candidatos tentando capturar esse momento. No Fórum da Liberdade, uma turma animada de jovens transita pelo local decorado com fotos dos economistas austríacos Ludwig von Mises e Friedrich Hayek. Um estante vende camisetas com temática liberal. Uma das estampas mostra um esqueleto sentado, com um balão de pensamento com os dizeres: “Esperando o comunismo dar certo”. Esse é o caldo de cultura criado ali. O atual pioneiro do movimento no Brasil pode ser considerado o Instituto de Estudos Empresariais (IEE), fundado em 1984. O IEE pregou no deserto por mais de 20 anos. A mudança de cenário pode ser exemplificada pela criação, no ano passado, da Rede Liberdade, que reúne 29 instituições em 12 estados brasileiros – 26 delas surgidas nos últimos dez anos. Um exemplo é o Instituto Mises, um centro de estudos fundado em 2008 que promove ideias liberais e já editou 61 livros, com 100.000 exemplares vendidos e 1 milhão de downloads gratuitos. “Estamos vivendo uma reação liberal, ocupando um vácuo deixado pela esquerda”, diz Hélio Beltrão, fundador do Mises, entre muitos pedidos de foto com jovens que o reconheciam. “As pessoas estão mais sujeitas a recalibrar sua visão de mundo. Estamos oferecendo outra solução.” Na esteira do IEE, outros grupos surgiram, como o Instituto de Formação de Líderes (IFL), nascido em São Paulo, já espalhado por quatro estados e em via de se instalar em outros três. As universidades também são alvo da ofensiva liberal. A organização americana Students for Liberty, presente em 110 países, chegou ao Brasil em 2012 e vem ampliando o quadro de integrantes: de seus quase 2.300 membros mundiais, mais de 1.500 são brasileiros. “Queremos educar, empoderar e desenvolver a próxima geração de líderes liberais”, diz Fernando Maia, presidente do Students for Liberty.

Política

Há dois novos partidos declaradamente liberais no país, o Novo e o PSL, que foi tomado recentemente pela corrente libertária Livres e vai assumir esse nome. Ambos são ainda nanicos: o PSL tem um deputado federal e o Novo não tem nenhum. Mas ambos mostram força crescente entre os jovens. O Novo é, atrás do PSDB, o partido com o maior número de fãs no Facebook – á são 1,3 milhão -, e o Livres vem despontando. Um dos esforços é para se desvencilhar da associação com o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), ícone de uma direita ligada ao autoritarismo. “Encampamos questões de comportamento, como a legalização da maconha”, diz Paulo Gontijo, presidente do Livres no Rio de Janeiro. “Queremos oferecer soluções liberais nas políticas públicas.”

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